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Foto do escritorRev. Luiz Henrique

A alegria da comunhão | Salmo 122

Introdução

Qual é o tamanho do seu contentamento ao saber que está em direção à casa do Senhor? Como você se programa e organiza sua vida em preparação à casa do Senhor? Qual o objetivo de vocês estarem aqui, neste dia? As respostas à essas perguntas dirão muito sobre a maneira e o lugar que Deus tem em sua vida e como você encara o ajuntamento com o povo de Deus.

Infelizmente, vivemos na era onde muitos estão amando mais este século do que o vindouro. Estão pensando apenas no aqui e agora, que favorecem o seu bem estar e sua vida, portanto, não almejam a comunhão dos santos, muito menos “estar” diante dos Santo dos santos. A razão disso é que muitos se esqueceram que sua união com Cristo também significa sua união com o corpo de Cristo. Não existe relacionamento com Cristo sem também se relacionar com o Seu corpo. Não há possibilidade de relacionamento apenas com o Cabeça do corpo; é necessário também com todo o corpo – cada membro e cada parte.

Em tempos de pandemia e isolamento social, ficamos impedidos de congregar presencialmente por um longo período, mas não deixamos de estar unidos ao nosso Senhor e Rei. Não estávamos juntos no mesmo ambiente, mas no mesmo Espírito. Esse período serviu para testificar o que de fato somos em Cristo Jesus <o seu corpo>o seu corpo> e uns com os outros <membros do corpo>membros do corpo>.

Esse tempo também revelou a fraqueza e instabilidade de muitos que, aparentemente, pareciam consolidados e firmados no Senhor, mas na verdade, eram só de aparência. Para esses, o Coronavírus não os impediu de estarem congregando, mas o pecado sim. O isolamento social não contribuiu para que sua fé e seus relacionamentos fossem abalados, mas a falta de amor, comunhão e unidade sim. A doença e suas consequências não impediram que muitos adorassem a Deus e desejassem estar em sua presença eternamente, mas o esvaziamento espiritual sim. A falta de deleito no Senhor, sim. A falta de oração e leitura da Palavra, sim. A presença constante dos desejos da carne e a vontade de satisfaze-la, sim. Tudo isso contribuiu para que alguns, que já estavam distantes, se distanciassem ainda mais do Cabeça e demais membros do corpo.

É por essa razão que precisamos resgatar a alegria da comunhão! Comunhão com o Cabeça do corpo e com todos seus membros. É necessário que imitemos a Cristo quando, em sua oração sacerdotal (João 17), apresenta de maneira brilhante a importância da comunhão do Cabeça com o seu corpo. Ele diz: 20 Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; 21 a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.

Com este salmo podemos aprender com Davi a importância de estar na presença de Deus e zelar pelo bem estar de nossos irmãos, além de promover a paz. Com este salmo somos levados a contemplar a presença de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o cabeça do corpo do qual somos membros. Com ele, aprendemos a buscar o bem de nosso irmão por meio da paz que desfrutamos na comunhão da congregação diante do trono de Deus.

O salmo 122 é o cântico da alegria em Deus e seu povo. Ele é a expressão do deleite no Senhor e sua igreja. Ele também é o primeiro cântico de Davi que aparece no saltério dos degraus (cânticos de romagem) e também enfatiza a importância de Sião para a unidade do povo.

É interessante observar que quando Davi escreveu estas palavras, o templo ainda não existia. Ele só foi construído nos dias de seu filho Salomão. Assim, a que Davi se refere, então, quando fala da “Casa do Senhor”? Ele se refere à tenda que erigiu em Jerusalém para abrigar a Arca da Aliança (1Crônicas 16.1). Essa tenda era a morada de Deus entre seu povo.

O reformador do século XVI, João Calvino (2009, Pág. 335), resume este salmo da seguinte forma:

Neste salmo, Davi se congratula , bem como toda a igreja, com o fato de que um local definitivo havia sido designado para a Arca da Aliança e que Deus escolhera um lugar onde seu nome deveria ser continuamente invocado. Em seguida, para estimular e encorajar os fiéis a envolverem-se no culto do santuário, ele declara de forma sucinta que a condição próspera do povo dependia de haver Deus escolhido Jerusalém para a sede da realeza. Por causa disso, o propósito dEle era defender, manter e assistir seu povo.

Podemos ver Davi parado no centro da cidade, contemplando seus muros, torres e fortificações. À medida que absorve tudo isso, ele fica maravilhado. Por quê? O que é que prende a sua atenção?

Em primeiro lugar, Jerusalém é o centro religioso da nação: “Jerusalém, que estás construída como cidade compacta, para onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, como convém a Israel, para renderem graças ao nome do Senhor” (v.3-4). O ponto de Davi é que Deus indicou Jerusalém como o lugar onde os sacerdotes deveriam ministrar e onde o povo se reuniria para adorar.

Em segundo lugar, Jerusalém é o centro político da nação: “Lá estão os tronos de justiça, os tronos da casa de Davi” (v. 5). Aqui, Davi celebra o fato que Deus indicou Jerusalém como o lugar onde os reis haveriam de reinar e o povo se reuniria para o juízo.

Independente de qual seja os motivos externos que Davi expressa neste momento, seu gozo é, principalmente, por estar com seus irmãos em direção à casa do Senhor, para louvar e adorar ao Senhor. Lá, eles irão oferecer sacrifícios à Deus. Lá, eles contemplarão as maravilhas de Deus por meio do ajuntamento. Lá, eles adorarão ao Senhor de suas vidas e apresentarão suas orações com anseios de paz, prosperidade e amor mútuo. Tudo isso pelo pleno prazer e alegria da comunhão com Deus e seu povo.

Podemos destacar essa verdade da “alegria da comunhão” que o salmista Davi expressa, em três aspectos importantes. Vejamos:

A alegria da comunhão na Casa do Senhor – v.1-2.

Como Davi, podemos contemplar maravilhados a “Casa do Senhor” (v. 1-2). O povo ansiava em poder ter um lugar para adoração. Por causa dos inimigos o povo de Israel vivia mudando o lugar da Arca da Aliança.

No passado, as pessoas tinham falta de estar diante de Deus. Buscavam a todo custo, mesmo que precisassem fazer uma longa viagem três vezes ao ano, apenas para oferecer sacrifícios em ações de graças a Deus. Hoje, infelizmente, as pessoas não tem mais o prazer de estar na casa do Senhor. Não há mais aquela expectativa da comunhão na adoração. Ir a cada do Senhor “Tato faz como tanto fez” para alguns. Entram e saem da casa do Senhor e isso não lhes envolve de nenhuma maneira.

Além da alegria da comunhão na casa do Senhor, há ainda um segundo motivo que o salmista Davi expressa nesta passagem, pela alegria da comunhão. Vejamos:

A alegria da comunhão na presença do Senhor – v.3-5.

Contemplamos os ofícios de sacerdote e rei juntos em Cristo (v. 3-5). Quando Davi menciona as tribos do Senhor se dirigindo à Jerusalém para render graças ao nome do Senhor, ele está se referindo ao fato de que, por meio dos sacerdotes, essas ações de graças eram apresentadas ao Senhor, pois apenas eles poderiam ministrar na casa do Senhor.

Ao mesmo tempo, quando Davi fala que em Jerusalém há tronos de justiça, ele está se referindo ao governo político do povo. Reis e juízes foram estabelecidos por Deus para governar e julgar o Seu povo. Em Jerusalém essas duas autoridades tinham seus tronos estabelecidos.

Quando olhamos para a dispensação da graça de Deus, especificamente no Novo Testamento, encontramos essas duas características em Jesus: Sacerdote e Rei (Hebreus 8.1-2, 9.11-12; Filipenses 2.5-11; Hebreus 1.8; Marcos 11.1-10).

Portanto, quando estamos na casa do Senhor, a alegria deve transbordar em nosso coração não apenas por estarmos no lugar onde Ele habita, mas por saber que estamos diante dEle. O Senhor de nossas vidas. Nossa maior alegria não é fruto apenas da ideia de “estar de volta ao paraíso de Deus”, mas no fato de estarmos diante de Deus, em paz e comunhão, desfrutando de Sua santa presença.

Depois de falar da alegria da comunhão na casa e na presença do Senhor, o salmista Davi concluí sua canção expressando um último motivo de sua alegria da comunhão. Vejamos:

A alegria da comunhão no amor com os irmãos – v.6-9

O salmista Davi anela pela paz de Jerusalém. Ele está tão impressionado pela grandeza de Jerusalém que pede em oração por sua prosperidade afim que ela perdure para sempre. Para que isso acontecesse, era necessário que a paz entre os povos prevalecesse, pois havia muitos invasores estrangeiros.

Como Davi, nossa oração em favor da igreja é que ela tenha abundante “paz” – o conhecimento de Deus conosco, por nós e em nós (v. 6-7). E zelamos pela “Casa do Senhor”, movidos por nosso amor pelo povo de Deus e pelo prazer na glória de Deus (v. 8-9).

Jerusalém tornou-se o lugar onde o povo de Deus se reunia, pelo três vezes por ano. Era nesse momento que eles, ao virem dos diversos lugares, poderiam desfrutar da comunhão por meio do ajuntamento. Nos lembremos do Pentecostes descrito em Atos 2 quando diz: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (At 2.1). Esse “todos” descritos pelo evangelista Lucas diz respeito a “...judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu” (At 2.5).

Eles vieram de todas as nações e estavam em comunhão em único lugar para adorar a Deus. Naquele momento não havia distinção de raça e cor de pele, o que predominava e os envolviam era a alegria da comunhão. O mover de Deus foi tamanho no meio dessa comunhão que Lucas finaliza o capítulo dois dizendo:

46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.

Essa alegria na comunhão dos santos tem faltado no meio do povo de Deus hoje. Muitos, ao invés de fazer como Davi – orar pela paz e prosperidade daqueles que amam, são na verdade verdadeiros incitadores de guerras, inimizades e falatórios mentirosos contra seus irmãos. É necessário fazer como Davi que diz: Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: Haja paz em você!” Por amor da Casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o seu bem (Salmo 122.8-9).

Conclusão

Um puritano do passado dizia o seguinte: “A maneira como tratamos a igreja é a maneira que tratamos a Cristo <...> Aquilo que pensamos a respeito da igreja é, na verdade, o que pensamos a respeito de Cristo” (Yuille, 2017).

Estar unido com Cristo é estar unido com a igreja. Estar em comunhão com Cristo é estar em comunhão com a igreja. Estar comprometido com Cristo é estar comprometido com a igreja. Respeitar a Cristo é respeitar a igreja. Amar a Cristo é amar a igreja. A igreja não é um produto. Ela não existe para satisfazer nossos caprichos. Ela existe para a glória do Deus Trino.

Portanto, que possamos ter alegria e comunhão na casa do Senhor, na presença do Senhor e com o povo do Senhor; pois Esse mesmo Senhor e Rei, virá uma segunda e ultima vez buscar o seu povo que se deleitou em sua presença, juntamente com os demais irmãos na casa do Senhor.

Que tenhamos, todos juntos, alegria na comunhão! Amém.

 

Referências

  1. Calvino, J. (2009). Salmos Volume 4 - Série de Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel.

  2. Costa, F. M. (16 de Novembro de 2018). O Principal Motivo da Alegria. Fonte: Voltemos ao Evangelho: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2018/11/o-principal-motivo-da-alegria/

  3. Wiersbe, W. W. (2006). Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, volume III - Poéticos. Santo André, SP.: Geográfica Editora.

  4. Yuille, J. S. (2017). Saudades de Casa – Uma jornada através dos Salmos dos Degraus. Recife, PE.: Editora Os Puritanos.

 

1Crônicas 16:1 Introduziram, pois, a arca de Deus e a puseram no meio da tenda que lhe armara Davi; e trouxeram holocaustos e ofertas pacíficas perante Deus.

Yuille, J. Stephen. Saudades de Casa: Uma jornada através dos Salmos dos Degraus (p. 54). CLIRE/Os Puritanos. Edição do Kindle.

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