introdução
O homem sempre foi um perito em evasões (William Barclay). Os homens culpam a seu próximo, culpam às circunstâncias; culpam à maneira em que são feitos, em vez de reconhecer que eles próprios são culpados por causa de seus próprios pecados.
As justificativas para os erros cometidos geralmente são: “O poder das circunstâncias era forte demais, por isso tive que agir como agi”. “Minha personalidade é forte, não consegui me controlar”. “Outras pessoas são culpadas”. “A rigor, Deus mesmo é culpado. Por que ele me deixou cair nessa situação tentadora? Por que me criou assim”? É assim que o ser humano tenta se livrar da culpa – e em última análise empurrá-la para Deus, para assim se auto justificar.
Tiago começou sua carta falando para judeus cristãos que foram dispersos pelo mundo após o início das perseguições com a morte de Estevam, com o intuito de encorajá-los a perseverarem na fé em Jesus.
Para isso, ele começa dizendo que essas perseguições que estavam sofrendo por causa do evangelho deveriam ser encaradas com alegria, uma vez que elas são provações necessárias para produzir neles perseverança; e essa perseverança deveria permanecer em suas vidas de maneira completa, para que pudessem viver de modo perfeito e integro diante de Deus, neste mundo.
Desta maneira, Tiago ensina que, durante as provações que viveriam, ao invés de murmurarem e reclamarem, deveriam orar, pois com a oração eles seriam capazes de demonstrar sua confiança em Deus. Mas não deveria pedir qualquer coisa quando orassem. Deveriam pedir sabedoria para Deus, e com fé, sem duvidar, na certeza de que Ele lhes responderia positivamente.
Na mesma carta, Tiago ensina que se há alguma coisa que eles deveriam se gloriar, deveria ser em sua exaltação; aquela exaltação que só aqueles que compreendem com humildade a sua condição diante de Deus; aqueles que não se escondem por detrás de sua riqueza para obter o favor de Deus; pois toda riqueza e aquele que se apega a ela passará como a flor do campo. Mas, aquele que suporta com perseverança a provação, não apenas é bem-aventurado por agir assim, mas também receberá a coroa da vida, o qual o Senhor prometeu aos que o amam.
Agora, Tiago traz um alerta importante para esses cristãos e lhes revela coisas terríveis em relação ao engando sobre a verdadeira causa das tentações. Neste momento, ele aborda os cristãos que estavam sofrendo provações e fala com eles sobre as tentações; que são situações completamente distintas uma da outra, mas que poderia trazer alguns enganos à mente daqueles irmãos, assim como a nós hoje.
Se, enquanto nas provações, eles deveriam se alegrar porquê, de certa forma, há uma providência divina “permissiva” nelas que o ajudariam a evidenciarem de maneira prática a sua fé; nesse período, eles também correriam sérios riscos de serem tentados; mas não por Deus direta ou indiretamente, pois “... Deus não pode ser tentado e ele mesmo não tenta ninguém – v.13”. A isso Tiago responde: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus”. Ele refuta severamente este conceito. Para ele, o responsável pelo pecado é o próprio desejo mau do homem, ou seja, o pecado seria impotente se na pessoa não houvesse nada mau ao qual o pecado pudesse apelar.
William Barclay diz que “Os maus desejos é algo que pode ser alimentado ou ser sufocado”. O homem pode, com disciplina, controlar o mau desejo e, com a graça de Deus, até eliminá-lo, se o enfrentar e o tratar decididamente. Mas também pode deixar que seus pensamentos sigam certo rumo, pode permitir que seus passos o levem a determinados lugares e companhias, pode deixar que sua “vista” se demore sobre coisas proibidas, pode passar sua vida fomentando o desejo. Pode usar mente, coração, olhos, pés e lábios para nutrir seu desejo.
Por outro lado, o homem também pode entregar-se de tal modo a Cristo e ao Espírito de Deus que chegue a estar limpo de maus desejos. Pode estar de tal modo entregue às coisas boas que não sobre tempo nem lugar para a prática dos maus desejos.
Como diz Tiago: “Não se enganem, meus amados irmãos – v.16”, existe uma guerra sendo travada dentro de nós, dia após dia, chamada pelas as Escrituras de “Concupiscência da carne”, ou, como diz Tiago: “a sua própria cobiça” – que significa: desejo, anseio, anelo pelo que é proibido.
E sabe o que é pior? Essa guerra não está sendo travada por nós, mas por causa de nós – pois somos a causa de sua existência. Mas sabe qual é a boa notícia que o evangelho nos traz? O Espírito de Deus habita na vida daqueles que, pela fé, creram em Jesus Cristo e se entregaram totalmente a Ele. Ele milita por nós essa batalha. Ele nos ajuda em nossas fraquezas e nos traz alertas constantemente para que não venhamos ceder às tentações.
Embora esse auxílio divino sobre nossas vidas, é à nós que a exigência de uma vida santificada recai. É à nós que se espera que sejamos como que primícias das criaturas de Deus, segundo o seu querer. Como criaturas racionais que somos e os únicos criados conforme a imagem de nosso Deus, se espera que sejamos suas primícias na representação plena de Seu caráter com perseverança nas provações e com resistência plena nas tentações.
No texto bíblico que lemos, podemos perceber uma divisão muito clara que Tiago faz para falar das tentações e que servem de alertas válidos para todos nós hoje. Vejamos:
DIVISÃO DO TEXTO
i. A NATUREZA SANTA DE DEUS – não podemos culpar a Deus por nossas falhas mediante as tentações, pois Ele é santo – v.13.
ii. A NATUREZA CAÍDA DO HOMEM – não podemos esperar bons resultados por desejarmos o que é proibido, pois os maus desejos fazem parte de nossa natureza – v.14-15.
iii. A SALVAÇÃO DE DEUS AO HOMEM – não podemos nos enganar ao ponto de acharmos que temos virtudes próprias suficientes para nossa salvação – v.16-18.
APLICAÇÃO DO TEXTO
Algumas atitudes são necessárias para nos ajudar nos momentos de tentação. Vejamos:
É necessário conhecermos plenamente a Deus: seus atributos e suas obras; pois esse conhecimento nos ajudará a reconhecer sua grandeza e majestade;
É necessário ter uma visão correta e sincera de nós mesmos em relação às nossas limitações para que tenhamos condições de buscar ajuda e socorro quando estivermos sendo tentados;
É necessário crer no plano eterno de Deus ao enviar seu único Filho para morrer em nosso lugar como prova de seu grande amor; e confessar os nossos pecados, convictos de que nós, um dia, cedemos às tentações e falhamos em manter o caráter de Deus em nós;
É necessária compreensão da igreja do Senhor quanto às provações e as tentações que sempre acompanharão o povo de Deus nesta terra; sendo que: (a) Nas provações poderemos passar por elas, certos de que servirão para fortalecer nossa fé e provocar em nós a perseverança; (b) Nas tentações precisaremos estar sóbrios e vigilantes para não ceder a elas; pois ceder significará alimentar a carne e entristecer o Espírito Santo.
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