A aliança – Jr 31.31-34 .
Outra característica das igrejas reformadas é sua visão da Bíblia como um todo. O Antigo e o Novo Testamento revela o plano unificado de Deus, geralmente mencionado como Aliança, ou o Pacto da Graça. Basicamente, esse Pacto da Graça diz respeito a declaração de Deus ao seu povo: “...eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” – Jr 31.33. Essa ideia encontra-se, literalmente, de Gênesis ao Apocalipse, pois trata-se do pacto que Deus estabelece com seu povo.
A teologia reformada foi apelidada de “teologia da aliança”, o que a distingue do dispensacionalismo. A teologia dispensacionalista originalmente acreditava que a chave da interpretação bíblica é ‘dividir corretamente’ a Bíblia em sete dispensações, definida na Bíblia de Referencias Scofield original como sendo sete períodos de testes na história da redenção.
As igrejas reformadas sustentam suas convicções teológicas com base em um Deus de aliança ou pacto. Deus estabelece um pacto solene com seu povo e, diferente dos acordos que fazemos hoje – onde em ambas as partes há responsabilidades a se cumprir – essa aliança que Deus estabelece com seu povo envolve apenas uma das partes: Deus.
É Deus quem promete benção, longevidade e prosperidade para o povo que Ele mesmo escolheu. É Deus quem preserva seu povo e o faz vitorioso nas batalhas. É Deus quem abre e fecha as portas, conforme o conselho de sua vontade. É Deus que providência o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Foi Deus quem enviou seu único Filho ao mundo, “...para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
A Confissão de fé de Westminster, em seu artigo VII, seção I, diz:
Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto<1>.
As alianças
Desta maneira, podemos perceber a insistência de Deus em manter a sua Aliança com seu povo, mesmo quando em vários momentos, o povo não foi fiel ao Senhor. Por causa de Sua aliança, e que não é homem para que minta, Deus manteve sua promessa.
A iniciativa parte sempre de Deus. Ele é quem faz a aliança e proporciona os meio para que ela se cumpra cabalmente. No final, a Sua plena vontade soberana se cumpre e os seus desígnios são estabelecidos e obedecidos. Vejamos:
O desenvolvimento da aliança move-se sistematicamente da criação, passando pela queda da humanidade, até a redenção, quando Deus age para restaurar o que o primeiro homem e a primeira mulher deixaram ao pecar. A partir dos primeiros capítulos de Gênesis, o grande plano redentor de Deus é desdobrado em etapas, primeiro por meio de uma família (Abraão), em seguida através de uma nação (Moisés e Davi), e finalmente concluído no próprio Jesus (mediante sua morte e ressurreição) e oferecido ao mundo.
i. ADÃO – aliança do começo (Gênesis 3.14-15).
A primeira declaração da aliança da redenção contém, em forma de semente, todo princípio básico que se manifestará posteriormente. Deus revela de maneira muito equilibrada os vários elementos constitutivos do seu compromisso de redimir sua criação caída.
Nessa aliança, envolvem: bênçãos e maldições. Mas, no final, a preservação do povo de Deus por meio de uma semente santa e o desenvolvimento desta aliança, são mantidos e cumpridos no desenrolar da história.
ii. NOÉ – aliança da preservação (Gênesis 6.13-14, 17-22).
Na aliança de Deus com Adão, aparece a primeira referência às duas linhagens de desenvolvimento entre a humanidade. Uma linhagem pertence à semente de Satanás, a outra, à semente da mulher. A aliança com Noé aparece no contexto do desenvolvimento dessas duas linhagens, e manifesta a atitude de Deus para com ambas. Destruição total e absoluta se acumulará sobre a semente de Satanás, enquanto a livre e imerecida graça será derramada generosamente sobre a semente da mulher.
iii. ABRAÃO – aliança da promessa (Gênesis 12.1; 17.1-2).
O aspecto soberano do relacionamento de Deus com Abraão tornou-se muito claro por ocasião da chamada inicial do patriarca. Note-se, portanto, que Deus não dá uma de várias opções à Abraão, mas a palavra de Deus veio a ele em termos de uma ordem solene: “Sai da tua terra, da tua parentela...” (Gn 12.1).
Quando lemos Gênesis 15, percebemos que essa narrativa indica claramente a essência da aliança como sendo um “pacto de sangue soberanamente administrativo”. Essa administração particular do compromisso de Deus de efetuar a redenção pode, apropriadamente, ser chamada de “a aliança da promessa”. De modo soberano Deus confirma as promessas da aliança com Abraão.
iv. MOISÉS – aliança da Lei (Êxodo 34.27-28).
Deus renova o antigo compromisso com o seu povo por meio da aliança de Moisés. A lei serve somente como um modelo único de administração da aliança da redenção. Estabelecido originalmente sob Adão, confirmado sob Noé e Abraão, o relacionamento de aliança renovado sob Moisés não pode perturbar o compromisso de Deus em andamento mediante sua ênfase na dimensão legal do relacionamento de aliança.
v. DAVI – aliança do reino (2Samuel 7.1-17).
Na aliança davídica, os propósitos de Deus de redimir um povo para si atingem seu estágio culminante de realização, no que diz respeito ao Antigo Testamento. Sob Davi, o reino chega. Deus estabelece formalmente a maneira pela qual governará seu povo. A aliança de Deus com Davi centraliza-se na vinda do reino. A aliança serve como o compromisso formalizador pelo qual o reino de Deus vem ao povo.
Antes dessa ocasião, Deus certamente se manifestou como o Senhor da aliança. Mas, agora, ele situa abertamente seu trono em um lugar específico. Em vez de governar de um santuário móvel, Deus reina a partir do Monte Sião, em Jerusalém. Em um sentido progressivo, pode-se dizer que, sob Davi, veio o reino; e não apenas o reino, veio o rei.
vi. CRISTO – aliança da consumação (Jeremias 31.31-34).
Esta última aliança de Deus pode ser apropriadamente designada como a aliança da consumação, em virtude do seu papel específico de unir os vários filamentos (por menores) da promessa da aliança através da história. Essa aliança suplanta as administrações das alianças anteriores. Ela traz, ao mesmo tempo, ao pleno cumprimento, a essência das várias alianças vividas por Israel ao longo da história. A palavra consumação caracteriza perfeitamente a essência dessa aliança.
O conceito apresentado pelo profeta Jeremias é de uma aliança renovada em vez de uma substituição de aliança. Passagens do Novo Testamento revelam que a nova aliança se cumpriu em Jesus Cristo, que realizou o desejo do Senhor de ter um relacionamento pactual renovado com seu povo (1Co 11.25; 2Co 3.6; Hb 9.15, 12.24). Ainda assim, na sua primeira vinda, Cristo apenas deu início à nova aliança. Ele continua a estabelecê-la neste período entre a sua primeira e a segunda vinda e a instituirá plenamente quando voltar em glória.
Conclusão
Uma igreja reformada enfatiza que o Antigo Testamento não é simplesmente um livro judaico, cheio de histórias interessantes e profecias de um futuro reino judaico. Pelo contrário, é na verdade, uma formulação prévia da mesma verdade encontrada no Novo Testamento.
Jesus não começa de novo. Ele simplesmente levou a termo o que já havia sido estabelecido desde Abraão e Moisés. Temas como: salvação por graça, a necessidade de expiação pelo sangue, e a igreja como uma reunião de pessoas resgatadas (incluindo seus filhos), são todos conceitos do Antigo Testamento levados a cumprimento na pessoa e obra de Cristo. Os privilégios estendidos ao povo de Deus sob a “suprema glória” da nova aliança eram apenas sombras do Antigo Testamento (2Co 3.7-18).
<1> de Westminster, Assembleia. Confissão de Fé de Westminster . Edição do Kindle.
Bibliografia
Anglada, P. R. (2015). Calvinismo - As antigas doutrinas da graça. Ananindeua, PA: Knox Publicações.
Costa, H. M. (2017). Introdução a Cosmovisão Reformada: um desafio a se viver responsavelmente a fé professada. Goiânia, GO: Editora Cruz.
Maia, H. (2007). Fundamentos da teologia reformada. São Paulo, SP: Mundo Cristão.
Robertson, P. (2002). O Cristo dos pactos. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
Ryken, P. G., Smallman, S. E., B. C., Lucas, S. M., & Jones, P. S. (2015). Série fé reformada, v.1. São Paulo, SP: Cultura Cristã.
Sproul, R. C. (2009). O que é teologia reformada. São Paulo, SP: Cultura Cristã.
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