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Foto do escritorRev. Luiz Henrique

Se não fosse o Senhor | Salmo 124

Introdução

Há uma série investigativa na TV, chamada de “Sherlock Holmes”. Em um de seus episódios, Sherlock e seu fiel assistente Dr. Watson foram acampar na floresta para investigar uns assassinatos. Eles chegaram, montaram a barraca e foram dormir. Lá pelas tantas, Sherlock acorda o Dr. Watson e lhe pergunta: Watson olhe pra cima e me diz o que você vê. Watson com os olhos com dificuldade pra abrir, olhou pra cima e disse: vejo um céu imenso com lidas estrelas e algumas poucas nuvens. Sherlock diz: eu vejo que roubaram a nossa barraca.

Essa ilustração nos chama atenção para a importância da “observação”. Vemos muitas coisas no dia a dia, mas precisamos aprender a observar tudo até podermos perceber o que acontece à nossa volta.

Não é diferente com este salmo. Ele fala de “ações de graças” que um observador faz. Por perceber algumas coisas importantes em sua observação, ele então louva e agradece a Deus dizendo: “Não fosse o Senhor...”. Ele diz isso depois de perceber o perigo que passou e o livramento que recebeu de Deus, além de constatar a grandeza e o poder dele, como o Criador. É por essa razão que o salmista louva e engrandece a Deus.

Este salmo é um hino de ações de graças onde os peregrinos cantam em razão de sua libertação de seus inimigos. A comunidade de Israel cantou este salmo em uma ocasião em que esteve sob ameaça, mas foi liberta.

João Calvino (2009, Pág. 351), comenta este salmo da seguinte forma:

Havendo sido a igreja libertada providencialmente de perigo extremo, Davi exorta os crentes genuínos a renderem graças e lhes ensina, por seu memorável exemplo, que a sua segurança depende da graça e do poder de Deus.

Portanto, este salmo nos ensina a olhar para Deus com gratidão e nos convoca a louvá-lo com ações de graças. O salmista faz todas essas coisas fazendo três importantes apontamentos: (1) o tamanho do perigo que viveu; (2) o tamanho de sua libertação; e, (3) o tamanho de seu libertador. Estas três observações foram importantíssimas para que chegasse à conclusão que se “Não fosse o Senhor...” ele não teria sido livrado de seus inimigos.

O salmista Davi identifica com maestria o real tamanho de seus inimigos diante de seu Deus e nos ensina a olhar para além deles quando estivermos em perigo. Vejamos:

i. O tamanho do perigo – v.1-5

  1. Os inimigos se levantaram contra Israel – v.2

  2. Os inimigos eram poderosos – v.3

  3. Os inimigos os teriam destruídos – v. 4-5

Apesar do salmista descrever com detalhes o perigo que correram, é interessante observar que, acima do perigo evidente, ele destaca o fato de que se “Não fosse o Senhor...” eles não teriam escapado dos ataques de seus inimigos. Com isso aprendemos que o mais importante diante dos problemas não é apenas identificá-lo e reconhecer seu grau de força e poder, mas em reconhecer a nossa única fonte de livramento e libertação.

Identificar os problemas, todos nós fazemos – na verdade, qualquer um é capaz de o fazer; porém, apenas os que confiam no Senhor e põem sua vida em suas mãos são capazes de reconhecer o Seu poder e descansar em seus átrios.

Ao invés de dizermos como Maria disse a Jesus: “...Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão.” (João 11.21); precisamos dizer como o salmista Davi: “Se o Senhor não estivesse do nosso lado quando os inimigos nos atacaram, eles já nos teriam engolido vivos...” (Salmo 124.2-3a ). Só assim teremos condições de reconhecer o real tamanho de nossos inimigos diante de nosso grandioso Deus; e diríamos “Senhor, se não estivesse aqui, meu irmão Lazaro não voltaria à vida”.

Somos capazes de tal declaração, mesmo diante de nossos inimigos e/ou problemas?

O salmista, além de identificar o real tamanho de seus inimigos diante de Deus, também reconhece mais uma importante atuação de Deus, mediante outra observação importante. Vejamos:

ii. O tamanho da libertação – v.6-7

  1. Não nos deu por presa: um cordeiro salvo dos leões – v.6

  2. Como um pássaro...livre...do passarinheiro: livres do cativeiro – v.7

  3. O salmista fala de salvação e libertação para descrever a ação poderosa de Deus por sua vida.

Mais uma vez o salmista nos surpreende ao descrever sua liberdade e salvação como uma prerrogativa de Deus unicamente, e não de si mesmo ou de outrem. Ele reconhece a importante atuação de Deus em os livrar e salvar de seus inimigos.

É importante observar que tanto a presa (cordeiro) quanto o pássaro estão em situação extrema dificuldade e correndo riscos de perder a vida e a liberdade. Um cordeiro pode ser pego despercebido por leões, assim como um pássaro pode cair na armadilha do passarinheiro sem antes ter percebido o perigo. Porém, em ambos os casos, o salmista atribui a Deus a sua salvação e libertação, pois se fosse por ele mesmo teria caído nas armadilhas e teria sido morto e/ou estaria preso eternamente numa gaiola.

O salmista bendiz ao Senhor dizendo que “...não nos deu por presa...” e a sua “...alma foi salva, como um pássaro do laço dos passarinheiros”; ou seja, se “Não fosse o Senhor...” ele teria sido uma presa fácil diante de seus inimigos. Observe também que ele mais uma vez reconhece e atribui a Deus a sua salvação e libertação, pois ele diz “Bendito seja o Senhor...”.

Aprendemos aqui o quão importante é reconhecer os livramentos que Deus nos dar nesta vida. Somos apressados em reclamar de tudo o que perdemos e sofremos, mas nos esquecemos de que Deus está no controle de tudo e que “...todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28), ou seja, se perdemos, ao invés de questionar a Deus, sejamos gratos. Pode ser que Deus esteja nos livrando de algo muito maior e pior.

Portanto, é bem melhor dizer agora (no presente) “Bendito seja o Senhor que não nos deu por presa...”, do que dizer “...Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo” (Lucas 16.24 ).

O salmista finaliza expondo algo importante que todos nós precisamos reconhecer dia a dia. Após identificar o real tamanho de seus inimigos diante de Deus e reconhecer a importante atuação de Deus em o salvar e livrar, o salmista faz uma última observação. Vejamos:

iii. O tamanho do libertador – v.8

  1. O Libertador é o socorro;

  2. O Libertador tem um nome poderoso;

  3. O Libertador criou o céu e a terra;

Até aqui temos sido ensinados a manter nosso olhar em Deus por causa do que ele pode fazer em nos manter salvos e livres do perigo. Mas, também precisamos compreender as razões do “por que” apenas Ele é capaz destas coisas. O salmista faz isso neste exato momento e nos conduz a também olharmos para o ser de Deus e seus atributos.

Para o salmista Deus não é apenas a sua fonte de socorro e segurança, Ele também é o Criador do céu e da terra, portanto, tem todo o poder para o socorrer e manter em segurança. Ele não tem um nome qualquer como os generais de guerra o tinham por causa de sua fama de vitórias e conquistas. O socorro do salmista está no “nome” de um Deus que foi capaz de criar, do nada, todas as coisas apenas com a sua voz (Palavra).

É importante observar a progressão do discurso do salmista. Primeiro, ele fala que se não fosse o Senhor ele e seu povo teriam sido destruídos. Segundo, fala da salvação e livramento que recebera do Senhor. Terceiro, descreve que o seu Libertador e Salvador também é o Criador do céu e da terra.

Com isso em mente também podemos fazer coro com o autor aos Hebreus quando escreve falando da superioridade e suficiência de Cristo, aos seus ouvintes, dizendo:

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles (Hebreus 1.3-4).

Desta forma, também podemos reconhecer a superioridade de nosso Senhor Jesus Cristo porque, se não fosse Ele, não teríamos existido e muito menos seríamos salmos e libertos da culpa do pecado.

Conclusão

Podemos concluí nossa meditação compreendendo três coisas importantes:

  1. Identificar os problemas é importante, porém, mais importante ainda é reconhecer o poder de Deus e descansar em seus átrios;

  2. Se perdemos alguém ou alguma coisa nesta vida, ao invés de questionar a Deus, sejamos gratos. Pode ser que Deus esteja nos livrando de algo muito maior e pior;

  3. Devemos louvar a Deus em todo o tempo porque, apesar de nós, Ele – segunda a sua misericórdia e graça, nos permite padecer algumas coisas nesta vida para que não tenhamos que sofrer e padecer eternamente no inferno.

Em Cristo Jesus toda a nossa dívida foi paga, mas ainda nos encontramos em falhas e erros diariamente. É por essa razão que precisamos do auxílio do Espírito Santo, pois só ele pode nos ajudar em nossas fraquezas e nos preservar deste mundo perverso, enquanto louvamos a Deus e damos glória ao Senhor por meio de nossa vida. Sendo assim, se “Não fosse o Senhor...” não estaríamos aqui e nem teríamos um lar eterno sendo preparado!

 

Referências

  1. Calvino, J. (2009). Salmos Volume 4 - Série de Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel.

  2. Costa, F. M. (16 de Novembro de 2018). O Principal Motivo da Alegria. Fonte: Voltemos ao Evangelho: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2018/11/o-principal-motivo-da-alegria/

  3. Wiersbe, W. W. (2006). Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, volume III - Poéticos. Santo André, SP.: Geográfica Editora. Yuille, J. S. (2017). Saudades de Casa – Uma jornada através dos Salmos dos Degraus. Recife, PE.: Editora Os Puritanos.

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