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  • Foto do escritorRev. Luiz Henrique

Nossa Confessionalidade | Estudos na CFW (1643-1649)

Atualizado: 9 de mai. de 2023

Como igreja confessional precisamos refletir sobre os fundamentos da nossa fé. Em tempos como esse que vivemos se faz necessário ter bem definida a nossa visão doutrinaria a fim de nos mantermos firmados e habilitados para defender aquilo que cremos.

Certa vez Jesus perguntou a seus discípulos: “...Quem dizem os homens que sou eu? E responderam: João Batista; outros: Elias; mas outros: Algum dos profetas. Então, lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: Tu és o Cristo. Advertiu-os Jesus de que a ninguém dissessem tal coisa a seu respeito.” – Mc 8.27b-30.

Jesus não estava interessado no que as pessoas diziam sobre ele e sua identidade; o que queria saber, na verdade, era o que seus discípulos pensavam a respeito dele. Mais tarde, depois da ascensão de Cristo, Pedro e os demais, já autorizados a divulgarem a verdade a respeito do Cristo, puderam declarar abertamente a sua cosmovisão: “A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas <...> Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. – Atos 2.31, 36.

Com isso, também aprendemos sobre a importância de estarmos plenamente conscientes a respeito daquilo que cremos e bem-preparados para dar razão de nossa fé.

Uma das características originais da tradição reformada foi a sua confessionalidade. Nos séculos 16 e 17, os reformados, mais do que outras tradições protestantes, preocuparam-se em expressar formalmente as suas convicções doutrinárias por meio de declarações escritas. Essas declarações foram de dois tipos: confissões de fé e catecismos. As confissões de fé são documentos dirigidos tanto a um público interno quanto externo e consistem em uma exposição sistemática dos principais pontos da fé reformada. Já os catecismos são dirigidos principalmente aos fiéis, especialmente as crianças e os jovens, e geralmente têm a forma de perguntas e respostas<1>.

A Confissão de Fé de Westminster foi redigida por mais de 120 teólogos reformados calvinistas (ingleses e escoceses), reunidos na Abadia de Westminster, na cidade de Londres, em um Concílio conhecido na História pelo nome de Assembleia de Westminster. Esse concílio aconteceu mediante uma convocação do Parlamento inglês para preparar uma nova base de doutrina, forma de culto e governo eclesiástico que devia servir para a Igreja.

Os teólogos mais eruditos daquele tempo tomaram parte nos trabalhos da Assembleia, onde discutiram ponto por ponto da Confissão e Catecismos, aproveitando o que havia de melhor nas Confissões existentes. Por assim dizer, a CFW é a confissão mais aceita entre os reformados por ter princípios mais bem elaborados e justificados biblicamente. Ela foi a última das confissões formuladas durante o período da Reforma e bebeu de todas as anteriores; portanto, o que houve de equívocos nas anteriores foram evitados na CFW.

Nossa confessionalidade possui algumas características importantes que precisamos admitir. Vejamos:


i. Uma confessionalidade bíblica


GUIMARÃES (2019, pág. 5) diz que estamos diante de um documento que representa:

  1. O esforço da igreja para estabelecer a verdade bíblica na cultura e no mundo em tempos difíceis. Em tempos difíceis, buscam-se alternativas e rumos diversos; mas eles se esforçaram para enfrentar a adversidade através da direção bíblica para a igreja e sociedade. Julgavam que somente com a Palavra a igreja, o governo e a sociedade poderiam alcançar a equidade e a paz.

  2. A fiel exposição da Sagrada Escritura. Isso significa que houve fidelidade à Escritura para que fosse elaborada uma fiel exposição dela. Sendo, portanto, um esboço da doutrina do Senhor.

  3. A expressão da espiritualidade cristã reformada. Os termos e expressões utilizados na Confissão de Fé de Westminster formam a linguagem de nossa espiritualidade e definem o que pensamos e somos.

  4. O amor à Palavra de Deus. A Confissão é, em seu conteúdo, um estudo bíblico. Sua intenção é estabelecer a Bíblia como manual de fé e prática, bem como referência à constante consulta, ao pleno estudo e à profunda devoção. Ela está repleta de citações Bíblicas porque se sustenta pela Escrituras Sagradas. Portanto, ao estudá-la, o leitor também alimentará um amor pela Palavra de Deus, pois essa é a proposta da Confissão: nos conduzir pela Palavra de Deus.

  5. A busca pela verdade. Uma das características da Confissão é a sua linguagem e conteúdo simples, embora profundo e edificador; tendo em vista a verdade das Escrituras em sua essência.

Portanto, a CFW é um conjunto de artigos que definem a visão bíblica da igreja acerca de diversos assuntos relacionados as Escrituras, a ética cristã, ao pecado, ao mundo, a liderança da igreja e sua estrutura, a nossa santificação e perseverança, a morte do corpo, ao céu e o inferno, a volta de Cristo, ao fim e a restauração de todas as coisas. Tudo isso dentro de uma perspectiva – cosmovisão – reformada.


ii. Uma confessionalidade Cristocêntrica


Quando lemos a carta de Paulo aos Colossenses (1.13-20) percebemos ali uma belíssima declaração confessional. Paulo, por assim dizer, expressou de maneira ‘bíblica’ a sua confessionalidade cristocêntrica à igreja de Colossos. Infelizmente nem todos são capazes de tal declaração, tendo em vista o seu raso conhecimento bíblico.

Nessa declaração o apóstolo Paulo tratou:

  1. Do amor do Pai – ao nos libertar do império das trevas pela ação de seu Filho;

  2. Do reino do Filho – que é a imagem do Deus invisível e o primogênito de toda a criação;

  3. De nossa condição – estávamos sob o império das trevas e fomos transportados para um reino onde temos a redenção e a remissão de nossos pecados;

  4. Da origem de todas as coisas – nele todas as coisas foram criadas e a ele foram destinadas;

  5. Da eternidade e domínio de Cristo – sendo ele antes de todas as coisas e o cabeça da igreja ;

  6. Da expiação de Cristo – por meio dele, todas as coisas foram reconciliadas com Deus, mediante seu sangue na cruz, trazendo a paz.

Estas declarações do apóstolo Paulo aos crentes em Colossos mostram que sua visão era cristocêntrica; portanto, a confissão cristã deve ter Cristo como centro, como Senhor e Salvador. A declaração de Paulo aos Colossos é uma maravilhosa confissão de fé no Cristo vivo, que estava com o Pai no princípio da Criação, que sustenta todas as coisas, e que se deu por todos nós, na cruz do Calvário.


iii. Uma confessionalidade pública


Além de nossa confessionalidade ser bíblica e cristocêntrica, ela também precisa ser pública, no sentido apologético e evangelísticos. Desta forma, precisamos nos ater três coisas importantes. Vejamos:

  1. Nossa confessionalidade é pública porque nossa fé precisa exposta ao mundo – Mt 10.32; Mc 16.15. Do ponto de vista bíblico, em primeiro momento Jesus proíbe que se divulgue seus feitos poderosos, mas após a descida do Espírito Santo sobre seus discípulos, se faz necessário uma exposição da fé em Cristo, no mundo.

  2. Nossa confessionalidade também é apologética porque nos permite expor, de maneira bíblica, a razão do que cremos – 1Pe 3.15; Sl 119.46; At 4.8-11. Ou seja, expomos o que cremos a fim de garantir que nossos ouvintes nos distingam das muitas crenças existentes no mundo. Tudo isso revelará o que somos, o que nos tornamos e o que precisamos fazer.

  3. Nossa confessionalidade se propõe a ser evangelística, tendo em vista que também pregamos quando declaramos a nossa fé, de maneira bíblica e apresentamos o único Deus, vivo e verdadeiro, capaz de salvar os perdidos – Mt 1.21; At 4.12, 10.43; 1Tm 2.5.

A confessionalidade cristã, conforme expressa na Bíblia, exige assumir publicamente a crença de que Deus é criador do universo, que o ser humano foi criado por Deus para o louvor da sua glória, mas que pecou e é réu de morte, digno do inferno, tendo necessidade de redenção que somente pode ser propiciada pela graça e misericórdia reveladas no sacrifício de Jesus Cristo em nosso lugar.


Conclusão


Estudando a Confissão de Fé de Westminster teremos condições de ter a nossas mãos um conteúdo repleto de conceitos Bíblicos e cristocêntricos a respeito da Criação, da Queda, da Redenção e Consumação de todas as coisas. Essas verdades permanecerão no coração e a na mente que é cativa à Palavra de Deus, regenerada pelo sacrifício expiatório de Cristo e guiada pelo Espírito Santo.

Enquanto a igreja permanecer na obscuridade do conhecimento de Deus e não conseguir responder questões éticas presentes em nossos dias à luz das Escrituras, ela nunca será edificada, não crescerá e muito menos fará a diferença no mundo. Mas, ao se propor a manter-se fiel à Palavra de Deus ela expor e viver os decretos de Deus, então se manterá saudável e pronta para toda e qualquer obra que o Senhor lhe dê.


 

Bibliografia

 

Notas

<1> Trecho retirado do site: https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/movimento-reformado-calvinismo/confissoes-reformadas/identidade-reformada-e-confessionalidade/

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