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  • Foto do escritorRev. Luiz Henrique

Uma responsabilidade | Efésios 6.4.

4 E vocês, pais, não provoquem os seus filhos à ira, mas tratem de criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor.

Introdução

Quando falamos em criação de filhos, principalmente no contexto cristão, logo pensamos no sustento, no exemplo e na boa educação em uma boa escola. Mas, também precisamos nos preocupar com a boa doutrina.

Essa deveria ser nossa primeira preocupação, pois o mundo com seu sistema maligno não espera a criança alcançar uma idade ideal para lhes impor seus conceitos, ideias e valores. É por essa e outras razões que somos ensinados nas Escrituras a compreender nossa verdadeira responsabilidade como pais, e a quem de fato esta responsabilidade recai e como desenvolve-la na pratica.

No texto bíblico, lemos que não devemos provocar nossos filhos à ira, mas devemos criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor. As palavras de Paulo procuram corrigir dois extremos na criação de filhos: Primeiro: pais que provocam a ira de seus filhos, exagerando na disciplina física ou exercendo erroneamente a sua autoridade. Segundo: pais que deixam os filhos entregues a si mesmos, realizam todos os seus desejos e jamais os contrariam.

Há um chamado à disciplina e admoestação dos pais aos filhos sem que isso lhes provoque a ira, desânimo e insatisfação. É comum atitudes grosseiras e maus tratos dos pais em relação aos seus filhos, quando o assunto é disciplina. As formas mais comuns pelas quais um pai pode deixar seus filhos irritados, ressentidos e irados, comenta o puritano John Gill, são as seguintes:

Por meio de palavras: ordens injustas e irracionais; linguagem contundente e censurável; críticas frequentes e públicas; expressões indiscretas e nervosas. E por meio de atos: preferir um filho mais que os outros; negar-lhes o necessário para a vida; negar-lhes a recreação apropriada e necessária; espancá-los de forma severa e cruel; usá-los de forma desumana; negar-lhes uma educação adequada; desperdiçar a herança deles; dá-los em casamentos impróprios e visando ao próprio proveito.

Infelizmente, está é a realidade de muitos lares cristãos. Cremos que a mais importante tarefa que os pais crentes têm nesta vida seja criar os filhos no caminho do Senhor. Ensinar os filhos a conhecer a Deus é mais importante do que educá-los física e intelectualmente. O maior legado que os pais podem deixar aos filhos é o conhecimento e o temor de Deus. De acordo com o livro de Provérbios, isso é mais precioso do que ouro, prata e joias: “Aceitai o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido” (Pv 8.10).

O contexto em que Paulo menciona a responsabilidade dos pais está inteiramente ligado aos deveres mútuos no casamento. Primeiramente, o apóstolo trata das responsabilidades das mulheres e dos maridos (5.22-33); em seguida, das responsabilidades mútuas dos pais e dos filhos.

Agora veremos a responsabilidade básica dos pais no casamento, ou seja, criar os filhos de acordo com os padrões estabelecidos por Deus em sua Palavra. Há nesta passagem algumas lições relacionadas a esta responsabilidade que os pais precisam compreender e praticar. Vejamos:

i. Uma responsabilidade dirigida: “E vocês pais...”– v.4a;

É comum pensarmos numa criação de filhos compartilhada com todos da família. Geralmente, quando se sabe que o casal está “grávido”, logo a alegria contagia os familiares de ambos os lados. É possível que neste momento se exija o auxílio mútuo dos membros da família do casal para essa nova etapa da vida deles ou que haja uma disposição voluntária dos futuros avós para tal missão; porém, muitos se esquecem – inclusive o casal, que a partir de então, é sua reponsabilidade a criação dos filhos.

Refletindo sobre este aspecto, a minha conclusão é que a maioria dos pais não compreenderam, biblicamente falando, o seu papel diante de Deus e a missão que lhes foi confiada de conduzir seus filhos “no” caminho do Senhor. Conforme diz as Escrituras, é dever dos pais a educação e instrução dos filhos. Porém, está passagem nos ensina algo mais direto com relação a quem de fato recai essa responsabilidade.

O apóstolo Paulo diz: “E vocês pais”, aqui ele define o verdadeiro responsável pela educação dos filhos. A palavra “pais”, em nossa língua portuguesa se refere tanto ao Pai quanto a Mãe, porém, o Novo Testamento foi escrito, em sua maioria, na língua grega, e precisamos entender o seu significado também em sua língua original que, por sua vez se refere ao gênero masculino (πατηρ pater gerador ou antepassado masculino/ alguém que está numa posição de pai e que cuida do outro de um modo paternal), ou seja, a palavra “pais” que aparece no texto refere-se aos homens, apenas. Isto não significa dizer que as mães não participam ou contribuem para tal tarefa, mas que ela é uma prerrogativa direta aos homens.

Esta é uma verdade bíblica desde o Éden, onde encontramos Deus dando as ordens para Adão; e, por meio de Adão, Eva e seus filhos recebem as ordenanças de Deus. Infelizmente esta compreensão correta foi se perdendo ao longo dos anos. Muitos homens se apegam apenas a responsabilidade de prover o alimento, a vestimenta e o teto onde a família é estabelecida; esquecendo-se totalmente de sua principal tarefa de educar seus filhos no caminho do Senhor.

A omissão dos pais na criação de seus filhos acaba por trazer consequências para as crianças, que crescem sem um pai presente e sem um modelo masculino que possa ser imitado. É claro que isso nem sempre acontece, mas a possibilidade se torna maior quando o marido se esquiva de suas responsabilidades paternas.

Acredito que Paulo coloca a responsabilidade de criar os filhos primeiramente sobre os pais (homens), porque o homem, biblicamente falando, é o cabeça da família, é o líder, é aquele que dá exemplo, encoraja, estimula e exercita a disciplina.

Há ainda uma segunda responsabilidade que o apóstolo Paulo apresenta nesta passagem. Além de dar um apontamento quanto a responsabilidade dos pais, o apóstolo também deixa claro (definido), de que maneira está responsabilidade deve ser exercida. Vejamos.

ii. Uma responsabilidade definida: “... não provoquem os seus filhos à ira...” v.4b.

Há aqueles pais (homens), que são grosseiros, ignorantes e arrogantes em sua maneira de agir. Agem assim talvez para, de maneira autoritária, impor uma liderança sobre seus filhos e esposa. Esse tipo de comportamento é comum em muitos lares, até mesmo em lares cristãos.

Junta-se a esse comportamento o estresse do trabalho, mais as preocupações com as despesas da casa e, talvez, uma infância conturbada e violenta por parte dos pais. Aquele “pai”, então, acaba reproduzindo isso na sua maneira de conduzir o seu lar. O ponto que o apóstolo Paulo traz é justamente uma responsabilidade exercida em amor, compaixão e sempre pedagógica, mesmo que isso envolva a admoestação e disciplina.

Paulo aqui toca no pecado mais comum do homem - a sua arrogância e seu autoritarismo. O que significa isso? Que o pai não deve tratar o filho de um jeito que este fique sempre irritado. Significa que ele deve exercer seu papel de pai de maneira adequada e correta, sem abusos e sem exageros, cuidando para que seus filhos sigam alegremente suas orientações. Deve cuidar para não deixar os filhos irados pelo emprego errado de sua autoridade.

Já no início do século 18, o puritano William Penn, o fundador da Pensilvânia, nos Estados Unidos, fez a seguinte observação: “Os homens em geral são mais cuidadosos em criar seus cavalos e cães do que seus filhos” (Some Fruits of Solitude, 1693).

O ponto em questão fala diretamente sobre a maneira que os pais devem lidar com seus filhos: “não provocando-os à ira”. A ira provoca reações catastróficas se não evitada e controlada a tempo. O apóstolo Paulo, citando o Salmo 4.4 ensina, nesta mesma carta, que até podemos nos irar, mas não podemos dar lugar a ela e, portanto, pecar: “irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Quando damos lugar à ira, então pecamos não apenas contra Deus, mas também àqueles que tanto amamos: nossos filhos.

O reverendo Augustus Nicodemus (2011, Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle), em seu livro “A Bíblia e sua família”, comenta o seguinte:

Cremos que a maioria das crianças deseja ter uma autoridade à qual seguir e obedecer. Elas precisam disso. Entretanto, desanimam-se quando as coisas mencionadas aqui acontecem, e se tornam inquietas e rebeldes. Não estamos afirmando que toda criança inquieta e rebelde ou que todo filho desobediente seja fruto de pais que lhe provocam a ira; mas estamos afirmando que isso contribui em larga escala. Filhos desanimados perdem a vontade de obedecer e fazer as coisas .

Depois de apresentar o “pai” como verdadeiro responsável pela educação dos filhos e dizer como ela deve ser exercida, agora Paulo chama atenção para uma responsabilidade ainda maior: a responsabilidade doutrinaria. Vejamos:

iii. Uma responsabilidade doutrinaria: “...mas tratem de cria-los na disciplina e na admoestação do Senhor” – v.4c.

Como vimos, a criação de filhos deve ser feita diretamente pelo pai, sem deixar de lado a mãe nesse processo. Agora, é importante compreender que, nesta educação que passamos aos nossos filhos, também estamos contribuindo para que eles absorvam uma cosmovisão cristocêntrica, ou seja, uma visão de mundo e de si mesmo na ótica de Cristo. Isso é fundamental para cada pai assumir porque, as primeiras instruções da vida são transmitidas pelos pais; seja no falar, como também no agir.

E Como parte de suas instruções sobre a educação dos filhos, Paulo acrescenta que os pais devem criá-los “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). Isto significa dizer que a referência que o pai deve utilizar para a criação, disciplina e admoestação é o Senhor Jesus; do contrário, não apenas estará introduzindo violência, ódio e maldade na mente dos filhos, como também estará contribuindo para a destruição do mesmo.

Criar filhos é muito mais que prover alimento, roupa e um lugar como moradia; pra nós cristãos isto significa cultivar e prepara-los para o seu Criador e Salvador Jesus Cristo, pois como diz o salmista: “Herança do Senhor são os filhos...” (Sl 127.3). Se são do Senhor, e concordamos que sejam, então, temos uma urgente responsabilidade: “cria-los na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4).

A palavra “disciplina” nesta passagem, vem do grego παιδεια paideia e está relacionada a “todo o treino e educação infantil (que diz respeito ao cultivo de mente e moralidade, e emprega para este propósito ora ordens e admoestações, ora repreensão e punição)”; ela é empregada por Paulo no sentido de “treinar”.

É responsabilidade dos pais, principalmente do pai, a instrução – como disciplina de vida, relacionada à tudo o que fora criado por Deus e que está diante de nós, como também aquilo que diz respeito ao caráter santo e irrepreensível daquele que nos formou segundo a sua imagem e semelhança. Tudo que foi revelado ao homem a respeito do ser de Deus e suas obras, precisam serem ensinados aos filhos como uma maneira de prepara-los para combater as mentiras do Diabo e, prepara-lo para adorar o único e verdadeiro Deus.

Em Deuteronômio 6, temos um chamado de Deus ao seu povo para que O tenham como único Deus e SENHOR, e que esta verdade fosse ensinada aos filhos. Vejamos:

— São estes os mandamentos, os estatutos e os juízos que o Senhor , seu Deus, ordenou que fossem ensinados a vocês, para que vocês os cumprissem na terra em que vão entrar e possuir, para que durante todos os dias da sua vida vocês, os seus filhos, e os filhos dos seus filhos temam o Senhor , seu Deus, e guardem todos os seus estatutos e mandamentos que eu lhes ordeno, e para que os seus dias sejam prolongados. Portanto, escute, Israel, e tenha o cuidado de cumprir esses mandamentos, para que tudo lhes corra bem e vocês muito se multipliquem na terra que mana leite e mel, como o Senhor, o Deus dos seus pais, lhes prometeu. — Escute, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Portanto, ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força. Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração. Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se. Também deve amarrá-las como sinal na sua mão, e elas lhe serão por frontal entre os olhos. E você as escreverá nos umbrais de sua casa e nas suas portas (Deuteronômio 6:1-9).

Este ensino deveria fazer parte de cada lar. Em cada família, Deus deveria ser o único SENHOR e sua verdade o único fundamento. Infelizmente, o que percebemos hoje é que, esta disciplina (ensino), está sendo transferida para a liderança da igreja local. Muitos pais crentes nunca leram a Bíblia para seus filhos; nunca oraram com eles; nunca o disciplinaram no caminho do Senhor. Enquanto isso, seus filhos estão mergulhando no mundo da internet absorvendo de tudo e tomando como verdade para sua vida outros ensinos que não fluem das Escrituras.

Vale ressaltar que, quando Paulo fala de disciplina, ela também envolve a correção com a vara visando o mesmo fim. Esta disciplina não é para a destruição e a estabilidade emocional dos filhos; mas, o seu crescimento saudável, respeitoso e que glorifique a Deus. Há vários versículos no livro de Provérbios que nos ajudam a entender este ponto. Vejamos:

Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução é luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida (Provérbios 6.23). A tolice está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela (Provérbios 22.15). Não deixe a criança sem disciplina, porque, se você a castigar com a vara, ela não morrerá (Provérbios 23.13). A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe (Provérbios 29.15).

Aplicação

Primeira: por uma compreensão errada sobre a verdadeira responsabilidade de conduzir o lar e a instrução dos filhos, o pai vem se omitindo ao longo dos anos quanto a esta responsabilidade. É tempo de assumirmos nosso papel como verdadeiros pais educadores que conduzem seus filhos no caminho do SENHOR;

Segunda: a maioria dos problemas com filhos deve-se a uma criação deficiente, ou por abuso de autoridade dos pais, provocando a ira, ou por falta de disciplina e criação adequada nos caminhos do Senhor; é necessário, portanto, que também venhamos assumir nossa reponsabilidade em educar e disciplinar nossos filhos em amor – visando o seu crescimento; e, no SENHOR, levando-o ao seu Criador e Senhor;

Terceira: sempre dependeremos da graça de Deus. Se nossos filhos crescerem e se tornarem crentes fiéis, não se dará por nossa causa, mas terá sido apesar de nós; no final, Deus é quem nos usa e fará toda a obra necessária.

 

Bibliografia

  1. Lopes, Augustus Nicodemus. A Bíblia e sua família / Augustus Nicodemus Lopes. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2011.

  2. Bíblia de Estudo NAA. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2019.

  3. SITE: https://my.bible.com/bible

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