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  • Foto do escritorRev. Luiz Henrique

A sabedoria do alto - Tiago 3.13-18.

Introdução

Grande parte dos problemas existentes em nosso meio se dão por causa de falta de sabedoria; aquela mesma sabedoria que foi exigida de Adão e Eva uma vez que poderiam optar pelo bom uso dela à seu favor. Infelizmente, por causa de uma sabedoria amarga e invejosa, à semelhança de Adão estamos caindo em pecado rotineiramente.

Quando olhamos para nossas atitudes e comparamos com a de outros, percebemos que, em muitos casos, nós que somos cristãos acabamos nos assemelhando com aqueles que não têm o temor de Deus. Isto se dá porque ainda resta em nós traços da velha natureza caída; ainda agimos conforme nossa personalidade afetada e defeituosa por causa do pecado.

Grande parte da igreja do Senhor, inclusive seus líderes, cometem erros gravíssimos por falta de sabedoria; mas, não é qualquer sabedoria, é aquela que vem do alto. Somos rápidos em agir conforme nossas emoções vindas do coração. Se essas ações fossem apenas racionais, talvez teríamos atitudes menos erradas possíveis. Mas, por causa do que há em nosso coração (inveja amargurada, sentimento rivalista, mentira, confusão e toda espécie de coisas ruins), agimos de maneira que fere - ao invés de curar, que maltrata - ao invés de tratar da maneira correta e sem ambições egoístas, que é terrena, animal e demoníaca - ao invés de pacífica e de bons frutos, e que é insensível - ao invés de plena de misericórdia e imparcial.

Este é o quadro do mundo; este é o perfil daqueles que estão profundamente mergulhados no pecado por causa de suas próprias ambições. Infelizmente, quem age desta forma só prova que de fato suas ações não refletem ao Criador dos céus e da Terra; mas, unicamente há uma natureza caída e maligna.

Nesta passagem da carta de Tiago podemos compreender bem qual o perfil daquele que possui a verdadeira sabedoria que vem do alto. Tiago apresenta a característica desta sabedoria e repreende aqueles que são guiados por uma sabedoria que é terrena, animal e demoníaca.

Até aqui Tiago explicou três características do cristão maduro, que sabe perfeitamente a relação da fé e das obras na vida cristã. No capítulo 1, Tiago explicou que o cristão verdadeiramente maduro é aquele que permanece paciente em meio às tribulações. No capítulo 2, Tiago diz que o cristão maduro é aquele que pratica a verdade bíblica, a Palavra de Deus. No capítulo 3, Tiago divide em duas partes o assunto. Na primeira parte ele trata da terceira característica do cristão maduro que põe a sua fé em ação, que é a capacidade de controlar a língua (v.1-12); nos versículos 13-18, ele expõe a segunda parte do capítulo falando da maneira como esse cristão maduro aplica a verdadeira sabedoria divina, na vida cristã.

Basicamente, Tiago diz que os que professam a verdadeira religião devem de forma especial dominar a sua língua (v.1-12); e que, a verdadeira sabedoria torna os homens brandos e os faz evitar as divisões e a inveja; e assim, ela pode facilmente ser caracterizada como sendo uma sabedoria terrena e hipócrita, diferente daquela que vem do alto que é pura, pacífica, gentil, tratável, plena de misericórdia, imparcial e sem fingimento (v.13-18).

Nesta passagem temos o retrato exato daquele que não faz bom uso da língua. Tiago diz que isso é resultado de falta de sabedoria; e não é qualquer sabedoria, é falta da sabedoria divina, que vem do alto; aquela que provém de uma vida conduzida pelo Espírito Santo de Deus. É por esta razão que podemos perceber três divisões bem claras nesta passagem:

  1. Temos um chamado à pratica da verdadeira sabedoria – v.13;

  2. Temos um pedido para que não haja vanglória naquele que não tem agido conforme a verdadeira sabedoria – v.14-16;

  3. Temos uma descrição da verdadeira sabedoria que vem do alto e a maneira como ela deve ser aplicada na vida cristã – v.17-18;

i. Um chamado à verdadeira sabedoria - v.13

Um homem verdadeiramente sábio é um homem bem instruído. Tiago diz que aqueles que são de fato sábios, não o são apenas pelo muito falar, mas pelo que apresentam por meio de suas obras. Para Tiago, não é apenas o conhecimento que faz o homem sábio, mas o que ele faz com esse conhecimento que o torna sábio de verdade.

Perceba que no capítulo primeiro (1.5) Tiago aconselha aqueles crentes que estavam padecendo várias provações a orarem a Deus pedindo sabedoria ao invés de mais conhecimento, pois o que lhes faltava era sabedoria para poder passar pelas provações e compreender a misericórdia e o favor de Deus sobre suas vidas.

A pergunta levantada por Tiago tem ligação com o que ele disse no versículo 1 do capítulo 3: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo”. O que Tiago faz é dizer que “se apresentar como Mestre diante dos outros apenas pelo muito falar e sem demostrar essa sabedoria na vida prática, não é ser sábio de verdade, pois o verdadeiro sábio mostra/demonstra/apresenta essa sabedoria com bom procedimento por meio de suas obras”.

Assim como ele disse nos capítulos anteriores que os cristãos deveriam demonstrar a sua fé por meio das obras, eles também deveriam serem capazes de demonstrar a verdadeira sabedoria por meio de suas vidas, na pratica. A sabedoria parta Tiago, não é meramente intelectual, mas também comportamental everiam. Quando Tiago fala em demonstrar essa inteligência em mansidão de sabedoria ele está dizendo que essa sabedoria só é possível para aquele que tem o Espírito de Deus, pois a mansidão é Fruto do Espírito.

A palavra “mansidão” aqui significa “gentileza, bondade de espírito, humildade”, ou seja, é o oposto da arrogância que produz conflitos e desavenças. Quem age assim é arrogante e tolo em suas decisões e, portanto, não possui o Espírito de Deus, uma vez que esse mesmo Espírito nos faz pessoas humildes – ao reconhecer nossa limitação e necessidade uns dos outros.

Na igreja do Senhor, os líderes/mestres e todo aquele que tem poder de influência deveriam possuir esse tipo de mansidão de sabedoria acima de todas as demais qualidades; de outro modo, ao invés de contribuírem para edificação da igreja do Senhor, serão eles uma força destruidora e maligna diante da igreja, pois passão mais tempo edificando sua própria reputação e orgulho do que exaltando a Cristo e edificando a sua igreja.

A sabedoria de nada valerá, a menos que se manifeste na forma de boas obras e de uma vida moral e espiritual correta. Ela também precisa ser frutífera e poderosa, tal como se espera que seja a fé cristã. O que Tiago faz aqui é compartilhar do conceito bíblico geral de que a sabedoria não consiste apenas no conhecimento, na astúcia e na habilidade, mas antes, em uma profunda compreensão sobre o que é e deve ser a vida piedosa.

ii. Um pedido para que não haja vangloria naquele que não age conforme a verdadeira sabedoria - v.14-16.

Agora Tiago traz uma realidade presente na vida daquele que “diz” ter sabedoria, mas sua vida reflete outra coisa bem diferente. Ele passa a demonstrar seu ensino de maneira mais prática. Ele diz que não é possível dizer que tem sabedoria e inteligência e ao mesmo tempo produzir sentimentos partidários (faccioso) e inveja amargurada; perceba que essas características descritas por Tiago são produzidas no coração (v.14a), e depois, são trazidas para o mundo real/prática. E o resultado disso é, ele diz: “...onde há inveja e sentimento faccioso/rival/partidário, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (v.16).

O apóstolo Paulo diz que a inveja e ciúme são resultados de uma vida carnal: 1 Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. 2 Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. 3 Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? (1Co 3.1-3).

O pedido de Tiago é que se o coração daqueles crentes estava cheio de inveja amarga e ambição egoísta, eles não deveriam encobrir a verdadeira sabedoria com vanglórias mentirosas. O resultado desse tipo de engano e mentira, ao dizer que vive uma coisa e na verdade não vive, é “...confusão e toda espécie de coisas ruins” (v.16b).

Enquanto a verdadeira sabedoria vem do alto (v.17), essa suposta sabedoria que só produz inveja amargurada e sentimento faccioso é terrena, animal e demoníaca. Estas palavras embora distintas uma da outra, porém, tem um significado intercambiável, ou seja, sua aplicação diz uma coisa só. Vejamos:



  1. Terrena/mundana – Aqui Tiago diz que essa sabedoria produz efeitos mundanos na vida do que a possuí, e é com razão que ela não vem do Espírito de Deus, pois é carnal, é deste mundo que ... jaz no maligno” (1Jo 5.19);

  2. Animal/natural/irracional – isto é, pertencente à vida natural e oposta à vida espiritual;

  3. Demoníaca/diabólica – diz respeito àquilo que é semelhante ou procedente de um espírito mal, em contraste ao Espírito de Deus;

A inveja e o sentimento faccioso são contrários à mansidão da sabedoria. O coração é o centro de ambos; mas a inveja e a sabedoria não podem coabitar no mesmo coração. Há uma sabedoria que vem do alto e outra que vem da terra. Não podemos nos deixar dominar pela sabedoria terrena, animal e demoníaca; é preciso rogar pela sabedoria divina, que vem do alto.

Se há algum motivo de que podemos nos gloriar é de que podemos, em Jesus Cristo sermos revestidos da verdadeira sabedoria que vem do alto, pois ele é a verdadeira sabedoria.

iii. Uma descrição da verdadeira sabedoria e sua aplicação - v.17-18.

Agora Tiago descreve como a sabedoria que vem do alto se distingue da sabedoria terrena e traz a maneira como ela pode ser aplicada na vida cristã, uma vez que ela é a fonte de vida prática do alto.

A primeira característica que Tiago apresenta desta sabedoria que vem do alto é que ela é, antes de tudo, pura; ou seja, ela atua com intenções saudáveis e corretas sobre a vida relacional; suas verdadeiras intenções estão alicerçadas naquilo que é santo e verdadeiro; seu interesse é, antes de tudo, a comunhão, a imparcialidade, a misericórdia e a paz.

Temos nestes versos algumas características da sabedoria que vem do alto que podemos usar para contrastar com a terrena, animal e demoníaca. Vejamos:

  1. Enquanto a sabedoria terrena é movida por inveja amargurada (v.14a), a sabedoria que vem do alto é pura (v.17a), ou seja, é respeitável e santa pois provém daquele que é Santo, e só os que possuem o Espírito de Deus são capazes de agir assim porque o próprio Espírito os convence do erro e os conduz à pureza nas ações e nas intenções;

  2. Enquanto a sabedoria terrena é movida por sentimento faccioso (v.14b), a sabedoria que vem do alto é pacífica e gentil (v.17b), ou seja, ela traz paz e tranquilidade consigo, assim como a gentileza e integridade, ao invés de divisões, discórdias, rivalidades e intrigas;

  3. Enquanto a sabedoria terrena é mentirosa e levanta falso testemunho (v.14c), a sabedoria que vem do alto é tratável e plena de misericórdia (v.17c), ou seja, ela nos ensina a ceder quando necessário para não causar danos maiores; e nos faz agir com compaixão por aqueles que necessitam da bondade e misericórdia diante das muitas aflições que padecem; ela é capaz de nos fazer praticar o Fruto do Espírito, como diz o apóstolo Paulo: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei (Gl 5.22-23);

  4. Enquanto a sabedoria terrena produz confusão e toda espécie de coisas ruins (v.16), a sabedoria que vem do alto traz o fruto de boas obras; ela é imparcial e sem fingimento (v.17d); ou seja, não mostra favoritismo e é sempre sincera;

O legado daqueles que promovem a paz, em vez de conflitos, é o fruto da justiça (v.18). Aqui Tiago mais uma vez faz um contraste com o que disse no capítulo 1 quando diz: “Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1.20), ou seja, o fruto da justiça que produzirá a paz não é conforma a ira produzida pelo homem, mas unicamente justiça pacificadora de Deus.

Conclusão

Como igreja precisamos orar a Deus pedindo essa sabedoria que vem do alto, pois a verdadeira sabedoria vem de Deus. Essa sabedoria está em Cristo. Ele é nossa sabedoria “30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, 31 para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.30-31).

Em Jesus temos todos os tesouros da sabedoria (Cl 2.3). Essa sabedoria está na Palavra, visto que ela nos torna sábios para a salvação (2Tm 3.15), e ela nos é dada como resposta de oração (Ef 1.17; Tg 1.5).

Nossos relacionamentos como irmãos em Cristo Jesus e quanto participantes de um contexto familiar, precisamos buscar praticar essa sabedoria que vem do alto, caso contrário, só existirá intrigas e toda espécie de coisas ruins como fruto de uma sabedoria terrena e desprovida da vontade de Deus.

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