Introdução
A adoração é algo muito importante para o povo de Deus. Nascemos para adorar e fomos criados em um ambiente de adoração (Salmo 19.1). Deus nos convida a adoração por meio de seu próprio Espírito para adorá-lo verdadeiramente (João 4.23). A adoração faz parte do povo de Deus; e mesmo aqueles que dizem não crer em Deus, adoram algum outro deus deste mundo ou faz de si o seu próprio deus. Ela é tão importante que, quando Moisés 'demorou' a descer do monte, o povo criou o seu próprio ídolo para adorar.
O que precisamos compreender, como 'povo de Deus' é:
De que maneira devemos adorá-lo?
O que envolve a adoração?
Como se começa a adoração?
Quais os resultados de uma vida de adoração?
O texto do profeta Isaías tem a nos ensinar a adorar a Deus com a verdadeira adoração que Ele (Deus) requer de seu povo. O objetivo desta mensagem é levar a igreja a compreender a extensão que a verdadeira adoração tem na vida cristã diária e, a importância de uma verdadeira compreensão da ordenança do Senhor para se pregar todo o conceito de Deus aos homens perdidos neste mundo caído.
O profeta Isaías escreveu o livro que leva seu nome para o povo de Judá, que ficavam ao Sul de Israel, em um período de pré-exílio; no ano que morreu o rei Uzias, que havia reinado o povo de Judá durante 52 anos em Jerusalém. Sua morte, descrita por Isaías, tem tudo a ver com a revelação de Deus ao profeta (leitura de 2Crônicas 26).
O povo de Judá, ao sul de Israel, precisava se voltar para Deus em arrependimento de seus atos pecaminosos diante de Deus e aprender a adorá-lo da maneira correta. No passado, eles foram infiéis ao compromisso de não ter outros deuses além do SENHOR e cumprirem Seus mandamentos. Agora Deus, por meio do profeta Isaías, entrega sua mensagem de juízo, por causa da iniquidade do povo que se rebelou contra Deus; e, de graça, manifestando sua misericórdia ao manter um remanescente.
Para que o povo aprendesse a viver e adorar a Deus da maneira correta, Ele apresenta por meio da visão do profeta Isaías, o que é necessário. E o que é necessário para uma verdadeira adoração à Deus? Para uma verdadeira adoração à Deus, é necessário:
i. Uma visão correta do Deus vivo - v.1-3
Ele é o Rei soberano que governa e o Juiz de julga retamente “...eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono...” – v.1. Sua glória se estende por toda à terra “...e as orlas do seu manto enchiam o templo <...> a terra toda está cheia da sua glória” – v.1c, 3c. Ele é inteira e completamente Santo “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos...” – v.3b.
Os “serafins” são seres angelicais que se encontram adorando e reverenciando a Deus; não há muita coisa sobre esses seres, nas Escrituras. A palavra ‘serafins’ em sua língua original traz a ideia de seres majestosos com aparência abrasadora, ou “os que ardem”. As suas seis asas trazem um grande simbolismo: (1) As duas asas que cobriam o rosto indicavam humildade; (2) As duas asas que cobriam os pés representa a pureza. Eles sabiam na presença de quem estavam, e não ousavam levantar os olhos para contemplar a face de Deus; (3) eles também clamavam ‘...cantavam: "Santo, Santo, Santo é o Senhor do Universo; toda a terra está cheia da sua glória” – Is 6.3 ’.
A adoração correta começa com uma visão do único Deus vivo e verdadeiro. Se devemos adorar a Deus como ele quer que o adoremos, precisamos igualmente ver a Deus como ele é. A adoração é o povo de Deus reunido para confessar a dignidade de Deus, a sua excelência. Nosso padrão de adoração tem de ser um testemunho do caráter de Deus. A adoração verdadeira começa com uma visão do Deus da Bíblia – uma visão do trono do único Deus vivo e verdadeiro.
Além de uma visão correta do Deus vivo (v.1-3), para adorar a Deus verdadeiramente também é necessário:
ii. Uma confissão correta do pecado - v.4-5
A adoração autêntica também envolve uma confissão do pecado, tanto individual como coletivo. Isaías chegou a conhecer a majestade e a natureza moral desse Deus, bem como a sua justiça e santidade. Ao fazer isso, Isaías viu automaticamente a sua total pecaminosidade. Ao se deparar com a realidade de Deus, Isaías percebeu a sua fragilidade e imperfeição. Ele viu a si mesmo condenado à morte.
O pecado só é perdoado quando confessado verdadeira e sinceramente. Isaías falou que seus lábios eram impuros e vivia no meio de uma geração também corrompida de impuros lábios. Essa deve ser a nossa visão de nós mesmos e desse mundo que jaz no maligno (1Jo 5.19).
Quando nos encontramos com Deus em verdadeira adoração, vemos a nós mesmos como Deus nos vê; vemos a nós mesmos como pecadores. Ao nos depararmos com o santo Deus, percebemos a nossa iniquidade e o pecado que nos envolve. Perceber e reconhecer esta realidade é algo que só acontece na vida daquele que verdadeiramente se apresenta diante de Deus em adoração.
Além de uma visão correta do Deus vivo (v.1-3), e uma correta e sincera confissão de pecados (v.4-5), para adorar a Deus verdadeiramente também é necessário:
iii. Uma proclamação correta do evangelho - v.6-7
Não podemos adorar verdadeiramente a Deus se não tivemos uma compreensão correta do que o evangelho proclama a nós. A primeira informação que o evangelho nos apresenta é que Jesus é o Rei dos reis, que governa soberanamente o mundo e o universo, e a segunda é que Ele também é o nosso Redentor. Ele o é porque estávamos perdidos em nossos pecados e distantes de nosso Criador.
A verdadeira adoração envolve uma correta proclamação do evangelho porque é apenas assim que compreendemos a maneira como fomos recebidos de volta à Deus: por meio do perdão de pecados.
Só quando o profeta Isaías teve consciência de sua pecaminosidade e arrependimento que o anjo voou para onde ele estava e, trazendo na mão uma brasa viva, que havia tirado do altar, tocou os seus lábios e disse: A sua iniquidade foi tirada, e o seu pecado, perdoado.
Esta cena é, claramente, uma antecipação da obra de Cristo. É um ato unilateral de Deus, um sacrifício propiciatório unilateral. É uma figura da expiação. Isaías não trouxe nada a Deus. Ele estava face a face com a realidade e consequências de seu pecado e, agora, reconhecia que a redenção é toda por graça e envolve um preço. Afinal de contas, as brasas vieram do altar de sacrifício e não de uma fogueira de acampamento.
A verdadeira adoração exige que vejamos o Deus vivo e verdadeiro e, depois, que vejamos a nós mesmos como realmente somos, em nossa pecaminosidade. Ao voltar-nos a Deus mediante a confissão, experimentamos a manifestação e a declaração da redenção. Essa adoração verdadeira sempre nos lembrará do que éramos e o que foi feito por nós, para que sejamos capazes de dizer como o apóstolo Paulo: “Gloriamo-nos na cruz de Cristo” (Gl 6.14).
Uma visão correta do Deus vivo (v.1-3), nos leva a uma correta e sincera confissão de pecados (v.4-5), e resulta em uma proclamação correta do evangelho (v.6-7). Mas, para adorar a Deus verdadeiramente, também é necessário:
iv. Uma disposição correta de obediência ao chamado de Deus - v.8
A pergunta que o profeta ouve parece aquele tipo de pergunta intencional e direcionada à pessoa que ouve. Tenho a sensação de estar vendo o profeta, por um lado, meio encurralado sem ter outra pessoa para transferir a responsabilidade; e, por outro lado, vejo a pressa e a urgência do profeta em se dispor para anunciar as boas novas de salvação que acabara de experimentar.
Há muitos perdidos neste mundo. Há muitos perdidos que carecem da luz divina. Há muitos que estão, a cada dia, caminhando para o inferno por causa de seus delitos e pecados. É confiada à igreja a tarefa de pregar o evangelho a toda a criatura; pois, como diz o apóstolo Paulo (Rm 10.13-17):
13 Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! 16 Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? 17 E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.
É primeiramente por meio da pregação da Escritura que chegamos a uma verdadeira visão do Deus vivo, reconhecemos nossa pecaminosidade, ouvimos a proclamação do evangelho da redenção e somos chamados a responder com fé, arrependimento e serviço.
A verdadeira adoração requer uma resposta contínua vista na evangelização genuína do evangelho de maneira pessoal e em missões. Se a nossa adoração for enfraquecida, nosso testemunho missionário também o será. Esqueceremos o Deus que nos enviou e negligenciaremos o conteúdo da mensagem de redenção com a qual ele nos enviou.
Vimos que para uma verdadeira adoração dos crentes em Jesus é necessário uma visão correta do Deus vivo (v.1-3), uma correta e sincera confissão de pecados (v.4-5), uma proclamação correta do evangelho (v.6-7); e, ainda temos mais uma característica que precisamos para adorar a Deus verdadeiramente. Vejamos:
v. Uma fidelidade correta em anunciar todo o conceito de Deus - v.9-13
A Teologia “inclusiva” ensina que o reino de Deus é para todos, não importa a religião, a crença, o que faz ou deixa de fazer. A Teologia da “prosperidade” ensina que Deus nos criou para sempre vencer e ter do bom e melhor desta terra; quanto mais se tem, mais filho de Deus você é. A Teologia do “amor” expõe apenas parte dos atributos de Deus e ensina que Ele a tudo ama incondicionalmente; ele não é um Deus de ira, apenas amor.
A verdadeira Teologia “bíblica” apresenta um Deus que salva e condena; que ama e odeia; que cria e destrói; que quebranta o coração e o endurece. É exatamente sobre isso que o Senhor revela a Isaías ao pedir-lhe que profetize (pregue). Sua mensagem traria como resultado o endurecimento do coração do povo de Judá, como juízo da parte de Deus. Apenas o seu remanescente permaneceria e, dele, renasceria uma nova geração.
Uma verdadeira adoração também envolve uma fidelidade correta em anunciar o evangelho do Senhor. A pregação do evangelho não é apenas para salvação, mas também para condenação. Cristo veio ao mundo para salvar o que estava perdido (Mateus 18.11), somente aquele que reconhece a sua iniquidade mediante a santidade de Deus, é capaz de confessar e abandoná-la. Essa confissão e arrependimento só é possível para aquele que antes Deus abriu os seus olhos e quebrantou o seu coração. Os demais, seus olhos não foram abertos e seu coração foi endurecido ainda mais.
O que Deus está dizendo ao profeta Isaías é exatamente isso (Isaías 6.9-10):
9 Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. 10 Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo.
A mesma coisa foi dita por Jesus a seus discípulos (Mateus 13.10-17):
9 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 10 Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? 11 Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. 12 Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 13 Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. 14 De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. 15 Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados. 16 Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. 17 Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram.
Como verdadeiros adoradores, fomos chamados a proclamar todo o desígnio de Deus (Atos 20.27), e isto significa dizer que não podemos acrescentar e tão pouco tirar alguma coisa da mensagem do evangelho que recebemos; caso contrário, como diz Paulo, que seja anátema (Gl 1.9).
A verdadeira proclamação do evangelho só poderá obter um de dois resultados possíveis. Ou o coração do homem será compungido e quebrantado e se renderá à irresistível graça de Deus ou ele será endurecido ainda mais, pelo mesmo Deus. Em ambos os casos, Deus será glorificado e sua obra concluída com fidelidade por seus arautos.
A passagem termina dizendo: “Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco” (Is 6.13).
Ao profeta é dito que, mesmo que todas as arvores sejam cortadas e destruídas, ainda restará apenas um toco; e esse toco será suficiente para um reflorescimento. É claro que a profecia está se referindo Cristo Jesus, o remanesceste. Por mais que quase toda a geração de Israel tenha sido destruída ou escravizada, ainda assim, Deus suscitaria uma semente santa que restauraria um povo para si.
Se olharmos atentamente para a história do povo de Israel, perceberemos que apesar de sua desobediência e rebeldia contra Deus, Ele manteve a sua promessa de que da semente da mulher nasceria um que seria capaz de ferir a cabeça da serpente e salvar o seu povo (Gênesis 3.15). Essa promessa se cumpre em Cristo Jesus e podemos ver isso desde o seu nascimento (Mateus 1.7-11):
7 Salomão gerou a Roboão; Roboão, a Abias; Abias, a Asa; 8 Asa gerou a Josafá; Josafá, a Jorão; Jorão, a Uzias; 9 Uzias gerou a Jotão; Jotão, a Acaz; Acaz, a Ezequias; 10 Ezequias gerou a Manassés; Manassés, a Amom; Amom, a Josias; 11 Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia.
Deus não deixou de cumprir a sua promessa por causa dos erros dos homens; muitos menos deixou de preservar a sua semente por causa da desobediência deles. Jesus Cristo, como diz o apóstolo Paulo, sendo Deus “...não julgou como usurpação o ser igual a Deus”; sendo Rei “...a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo”; sendo cheio de glória e esplendor “...a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.6-8).
A promessa de salvação se cumpriu, assim com a de condenação também. No final de tudo, apenas os verdadeiros adoradores ouvirão “...Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25.34); aos demais, lhe será dito “...Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41).
Conclusão
Portanto, apenas aqueles que adoram verdadeiramente a Deus sabem que é necessário uma visão correta do Deus vivo (v.1-3), uma correta e sincera confissão de pecados (v.4-5), uma proclamação correta do evangelho (v.6-7); uma disposição correta de obediência ao chamado de Deus (v.8); e, uma fidelidade correta em anunciar todo o decreto de Deus (v.9-13).
Desta forma, nos apresentaremos diante do Santo dos santos e o adoraremos verdadeiramente e cantaremos como os serafins “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6.3).
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