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A verdadeira felicidade | Salmo 128

Introdução

Vivemos num mundo que é incapaz de satisfazer nossa maior necessidade de vida – a felicidade. Nossa alma é espiritual; as coisas materiais não conseguem satisfazê-la. Nossa alma é incomum; as coisas comuns não conseguem satisfazê-la. Mas o que o mundo oferece? <...> coisas materiais, passageiras e comuns. Ele oferece com sons de pássaros, baleias, oceanos e chuva caindo. Oferece cadeiras vibratórias, máquinas de massagem, velas perfumadas e massageadores corporais. Oferece um monte de medicamentos, inúmeros aparelhos de ginástica e várias distrações tolas. Oferece esportes radicais, realidade virtual e reality show. Oferece entretenimento e mais entretenimento. Todas essas ofertas vêm acompanhadas de promessas de felicidade, mas o mundo não consegue cumprir suas promessas<1>.

Thomas Watson observa: “Milhões de pessoas se enganam tanto sobre a essência da felicidade como sobre a maneira de alcançá-la”. Por quê? É que a confundem com coisas exteriores: possessões, experiências, realizações e relacionamentos. Mas eis o que as engana: a felicidade não é encontrada em condições e circunstâncias que sempre mudam, mas sim num Deus que nunca muda<2>. Essa é a mensagem do Salmo 128. Ele responde onde podemos encontrar a verdadeira felicidade.

Contexto do texto

O Salmo 128 é uma miniatura das Escrituras. Pode-se dizer que o Salmo 127 é uma miniatura do Eclesiastes e o Salmo 128 resume temas frequentes em Provérbios. No Salmo 128 os peregrinos cantam a felicidade dos tementes a Deus. Nesse sentido, o temor do Senhor não apenas é o princípio do saber, mas da felicidade.

Este salmo é um retrato das famílias de peregrinos que viajavam juntas para Jerusalém, ondem ofereciam suas ofertas em sacrifícios ao Senhor; é por essa razão que, tanto este quanto o salmo 127, mencionem pais, filhos, esposa e avós. Enquanto o salmo 127 tem seu foco em dizer que os filhos são herança do Senhor e como flechas para derrotar o inimigo, o salmo 128 usa imagens do campo, tanto para a esposa quanto para os filhos.

A única razão para o salmista fazer menção da família – e tudo indica que o autor também seja Salomão, é para descrever as bençãos que Deus derrama sobre ela, uma vez que esta família teme ao Senhor e anda em seus caminhos.

Pelo menos em quatro momentos do texto podemos encontrar a ideia de benção sendo empregada. O salmista faz isso usando dois termos hebraico para esse conceito. Nos versículos 1 e 2, a palavra usada é אשר ’esher que significa feliz ou bem-aventurado; e nos versículos 4 e 5, a palavra usada é ברך barak que significa abençoado do Senhor.

O segundo termo (Barak), é usado para descrever que o Senhor abençoa seu povo; já o primeiro termo (Esher), é usado para descrever os benefícios relacionados ao fato de o povo agradar ao Senhor; ou seja, um reflete um povo que é abençoado e o outro o ‘porquê’ o povo é abençoado.

O Dr. Wiersbe (2006, pág. 327-328), nota uma progressão de onde a benção do Senhor recai sobre o contexto familiar, sendo exposta neste salmo. Ele diz que neste salmo há:

  1. um casal piedoso – v.1;

  2. trabalhadores bem-sucedidos – v.2;

  3. pais felizes – v.3-4;

  4. cidadãos produtivos;

  5. avós satisfeitos – v.6.

O ponto do comentarista é que a verdadeira felicidade do Senhor se estende à toda casa e ultrapassa gerações. Você também quer uma família feliz e abençoada em tudo o que faz e vive? Então tema ao Senhor, ande em seus caminhos e conduza toda a sua casa a fazer o mesmo e tudo lhe irá bem com você, sua esposa, filhos e netos. Você já dever ter percebido que este salmo recai sobre os ombros do ‘cabeça do lar’; aquele que é responsável em cultivar o temor e obediência ao nome do Senhor sobre toda a sua casa.

João Calvino (2009, pág. 383) diz que este salmo...:

...é parecido com o anterior, assemelhando-se a uma espécie de apêndice a ele, pois declara que a benção divina deve ser vista mais claramente nos verdadeiros e sinceros servos de Deus. Em favor da difusão desta bênção, Salomão testemunha entre toda a raça humana.

Neste salmo encontramos três elementos importantes da verdadeira felicidade: sua razão, seus frutos e sua fonte. Vejamos:

i. A razão da verdadeira Felicidade – v.1.

Segundo o salmista, a razão da verdadeira felicidade está inteiramente relacionada a duas atitudes que precisam serem praticadas:

  1. Temer ao Senhor

Existe uma maneira errada e uma correta de temer a Deus – o temor ímpio e o temor piedoso. O temor ímpio procede de uma percepção errônea a respeito de Deus, ao passo que o temor piedoso procede de uma percepção correta a respeito de Deus. O temor ímpio nos faz fugir de Deus, ao passo que o temor piedoso nos faz correr para ele.

Os ímpios temem a Deus por medo e irreverência à sua majestade e poder. Os crentes piedosos temem a Deus por reverência e honra à sua majestade e poder. Enquanto os ímpios fogem da presença de Deus por temerem o seu poder, os crentes piedosos buscam a Sua presença por reconhecerem seu poder e graça!

Nós o tememos a partir de um profundo senso de temor respeitoso e reverência. Esforçamo-nos para fazer o que lhe agrada e evitar aquilo que lhe desagrada. Em outras palavras, procuramos “andar em seus caminhos”.

É isso que significa temer a Deus e essa é a segunda atitude que o salmista apresenta para justificar a razão da verdadeira felicidade – andar nos caminhos do Senhor.

  1. Andar nos seus caminhos

Andar nos caminhos do Senhor só é possível para aqueles que O temem e reconhecem que sua vontade é boa, perfeita e agradável, pois Ele é soberano, majestoso e rico em poder. Será algo natural para os que temem ao Senhor obedecerem a suas ordens e confiarem em Sua plena vontade. O que não é natural é o que fazemos hoje – desobedecemos e andamos segundo as nossas próprias vontades; tudo isso são resultados da vontade de independência que o homem desejou ao comer do fruto proibido.

Andar nos caminhos do senhor está relacionado a nossa visão de quem é Deus. Teme-lo não será algo que produzirá em nós medo, pavor e assombro, mas reverência, obediência, louvor, honra e glória!

Seguindo a recomendação do Salmo 1.1-2 , os que temem ao Senhor são aqueles que: (1) não andam no conselho dos ímpios; (2) não imita a conduta dos pecadores; (3) não se assentam na roda dos escarnecedores. Tudo isso porque o seu prazer, ou seja, a sua felicidade está na vontade (Lei) do Senhor e nessa vontade está toda a sua devoção.

Segundo o salmista, a razão da verdadeira felicidade esta inteiramente ligada à vida daqueles que temem ao Senhor. Ele continua dizendo que esse ‘temer ao Senhor’ nos levar a andar em seus caminhos e que essa postura piedosa também produz frutos. Vejamos:

ii. Os frutos da verdadeira felicidade – v.2-4.

De acordo com o salmista, os frutos do temor a Deus e do andar em seus caminhos são triplos:

  1. Um Trabalho frutífero – v.2

Para o homem sem Deus o trabalho não é fruto da verdadeira felicidade. Na verdade, para eles o trabalho é uma desgraça! Alguns até culpam Adão; outros blasfemam contra as segundas-feiras que refletem o início de uma nova semana de labuta.

É bem verdade que o trabalho ganhou uma conotação de enfado muito maior após a Queda do homem, mas não é verdade que ele só produza tristeza e amargura. Para os cristãos piedosos, tementes a Deus e que andam em seus caminhos, o trabalho é honroso e seus frutos produzem alegrias, sustento e gratidão.

Aqueles que temem a Deus são satisfeitos ao ponto de dizerem: nós comemos do fruto do trabalho de nossas mãos. Isso não significa que nosso trabalho seja livre de todos os problemas e conflitos, mas que Deus abençoa nosso trabalho dando-nos as condições necessárias, as provisões necessárias, a oportunidade de oferecer ajuda aos necessitados e, o mais importante de tudo, servir a Deus.

Os frutos da verdadeira felicidade produzem, nos crentes tementes a Deus e que andam em seus caminhos, uma verdadeira prosperidade!

Veja a progressão que o salmista dispõe: (1) você comerá do fruto do seu trabalho; em consequência disso, (2) você será feliz; e, (3) tudo irá bem com você. As palavras – comerá, será e irá, estão em suas conjugações verbais do indicativo do futuro do presente, indicando uma condicional no presente para que aconteçam no futuro.

O salmista é claro em dizer que a condicional estar em temer e andar nos caminhos do Senhor; só assim você comerádo fruto do seu trabalho, será feliz e tudo irá bem. Dessa forma, nosso trabalho torna-se um chamado sagrado – cheio de dignidade, propósito e recompensas vindas da parte do Senhor.

O segundo fruto do temor a Deus e do andar em seus caminhos é

  1. Um lar frutífero – v.3

A família foi constituída por Deus e é um local onde a verdadeira felicidade deveria reinar plenamente. Em decorrência da Queda, a família também sofre os efeitos negativos do pecado (Gn 3.16). Todo lar é, em certa medida, deficiente, porque cada indivíduo é pecaminoso. Todo lar está repleto de desafios: expectativas não realistas, personalidades ofensivas, atitudes egoístas, palavras ásperas, dias longos, noites insones, fraldas sujas, irmãos briguentos e por aí vai.

Mas, para aqueles que temem a Deus e andam em seus caminhos, a verdadeira felicidade torna-se uma realidade mais uma vez. Quando vivemos no temor de Deus, o relacionamento entre marido e mulher é transformado. O casamento se vê livre da sua caricatura moderna de armadilha, tarefa desagradável ou fardo. Ele é elevado ao âmbito daquilo que é divino.

Nós, cristãos tementes a Deus, vemos o casamento da maneira como ele é: uma ilustração do relacionamento entre Cristo e a igreja (Ef 5.22-33). Quando vemos um marido doando-se a si mesmo à sua esposa, vemos Cristo doando-se a si mesmo à sua igreja. Quando vemos uma esposa servindo o seu lar com dedicação amorosa e respeitosa submissão ao esposo, então vemos a igreja se dedicando em amor, serviço e plena submissão à Cristo.

O temor a Deus também transforma o relacionamento entre pais e filhos. A paternidade torna-se uma vocação, não uma tarefa difícil e desagradável – uma bênção, não uma inconveniência. Isso não significa que nosso lar esteja livre de todo e qualquer problema, mas que essa família estará apta para enfrentá-los em harmonia, comunhão e amor.

O salmista ilustra esse lar frutífero em dois níveis:

  1. sua esposa será como a videira frutífera – capaz de produzir muitos filhos.

  2. seus filhos serão como rebentos da oliveira – muitas uvas de uma única videira.

Basicamente o salmista está falando a mesma coisa em ambos os casos: aquele que teme ao Senhor e anda em seus caminhos receberia como recompensa uma família frutífera com uma única esposa e muitos filhos.

O terceiro fruto do temor a Deus e do andar em seus caminhos é

  1. Uma promessa – v.4

O salmista expressa que a benção do Senhor será depositada sobre o lar daquele que O teme e anda em seus caminhos; e, essa benção, não é especificamente material, mas um estado de felicidade verdadeira que se reflete em um trabalho frutífero, uma família frutífera e um cuidado especial do Senhor derramado sobre os que O temem.

Quando tememos a Deus, nós “andamos em seus caminhos”, ou seja, conformamo-nos à sua vontade. Nós pensamos, sentimos, avaliamos, desejamos, sonhamos, planejamos e vivemos de maneira bíblica. O resultado de harmonizar nossa vida com a vontade de Deus é a sabedoria. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 9.10). Os mandamentos de Deus refletem a ordem e a estrutura do mundo; por isso, quando lhe obedecemos, harmonizamos nossa vida com a realidade, resultando em verdadeira felicidade.

É exatamente isso que o salmista passa a ensinar – que a verdadeira felicidade tem uma única fonte de origem – Deus.

iii. A fonte da verdadeira felicidade – v.5-6.

Depois de descrever os frutos da felicidade nos versículos 2-4, o salmista ora por ela nos versículos 5-6. E sua oração segue o esqueleto dos versículos anteriores:

  1. Ele ora por trabalho frutífero “...para que você veja a prosperidade de Jerusalém durante os dias de sua vida” – v.5b. Isto significa que aquele que teme a Deus e anda em seus caminhos não deseja desfrutar da verdadeira felicidade apenas no âmbito de seu lar, mas também em todo o lugar em que vive;

  2. Ele ora por lares frutíferos “...veja os filhos dos seus filhos” – v.6. O salmista expressa o desejo de longevidade para testemunhar do favor de Deus sobre sua posteridade.

O salmista deixa claro que somente Deus é a fonte dessa felicidade: “Que o Senhor o abençoe desde Sião...”. Para o antigo Israel, Sião é Jerusalém, onde se encontra o templo em toda a sua glória e o local separado para se apresentar diante de Deus e apresentar seus sacrifícios de louvor e gratidão. Para nós, Sião é Cristo!

Em sua igreja, que somos nós, é o local separado para compartilharmos a comunhão, louvor e render graças à Deus pela providência do Cordeiro perfeito para o sacrifício capaz de perdoar e apagar de uma vez por todas toda a nossa culpa. A igreja é onde o temor do Senhor nasce e é cultivado e onde os caminhos de Deus são proclamados e expostos.

O salmista faz esse tipo de oração porque reconhece que não está sozinho no mundo. O seu desejo em empenho em desfrutar da verdadeira felicidade se estende à toda a sua comunidade da fé. Sua oração é para que Sião, que é o ponto de encontro dos peregrinos para adorar a Deus e lhes prestar culto, também possa ser alvo da benção de Deus e, todos que ali se encontram possam desfrutar da verdadeira felicidade.

Portanto, é na igreja que encontramos a fonte da felicidade porque é nela que entramos em contato com a pregação da Palavra – o meio pelo qual o Espírito Santo cria fé no coração (Jo 3.3-5; Rm 9.16; 10.17). Esse é o meio pelo qual Deus opera em seu povo.

O salmista, durante os dias de sua vida, deseja ver os filhos de seus filhos, ou seja, seus netos. Mas, seu desejo não é apenas saber como eles serão e como quem se parecerão. Seu desejo é unicamente em saber que toda a sua casa, de geração a geração, continua temendo a Deus e andando em seus caminhos. Esta é a verdadeira felicidade que devemos desejar.

Aplicação

Podemos aplicar essa mensagem à nossa vida da seguinte maneira.

  1. É importante reconhecer que a verdadeira felicidade se encontra em Deus. Nada e ninguém nesse mundo é capaz de suprir essa necessidade;

  2. A verdadeira felicidade recai sobre a vida daqueles que temem a Deus e andam em seus caminhos, ou seja, em sua plena vontade e em plena obediência a ela;

  3. Devemos estar em constante oração por toda a nossa casa, principalmente aqueles que estão sob a nossa dependência como esposa e filhos. É por meio da oração que buscaremos o favor de Deus por nossas casas; ao buscarmos a Deus em oração também devemos dispor nossas vidas para seguir toda a Sua orientação em ordenanças e adoração, para que elas também sejam ensinadas.

Conclusão

Fomos criados para a eternidade. Fomos criados para algo maior do que nós mesmos – algo maior do que qualquer coisa que este mundo tenha para oferecer. Anelamos por alguma coisa que este mundo não pode satisfazer e somente em Cristo podemos desfrutar – a alegria da salvação.

A maioria das pessoas não entende isso. Querem que as coisas materiais e passageiras satisfaçam aquilo que é espiritual e eterno. Mas somente Deus pode conceder felicidade verdadeira. É isso que Cristo comprou para nós: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus...” (1Pe 3.18).

A verdadeira felicidade se encontra em Cristo Jesus que nos abençoa muitíssimo com o perdão de nossos pecados, com a nossa reconciliação com Deus, com a nossa salvação e com a nossa santificação e glorificação. Ter Cristo na vida, portanto, é desfrutar da verdadeira e eterna felicidade!

 

<1> Yuille, p. 110, Edição do Kindle.

<2> Yuille, p. 111, Edição do Kindle.

Referências

  1. Calvino, J. (2009). Salmos Volume 4 - Série de Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel.

  2. Costa, F. M. (07 de Dezembro de 2018). A restauração de Deus. Fonte: Voltemos ao Evangelho: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2018/12/a-restauracao-de-deus/

  3. Wiersbe, W. W. (2006). Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, volume III - Poéticos. Santo André, SP.: Geográfica Editora. Yuille, J. S. (2017). Saudades de Casa – Uma jornada através dos Salmos dos Degraus. Recife, PE.: Editora Os Puritanos.

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