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  • Foto do escritorRev. Luiz Henrique

O Fruto do Espírito | #04 | A verdadeira longanimidade

Introdução

O que mais precisamos nesta vida é de longanimidadepaciência. Somos impacientes na infância, desejamos ficar adultos logos para podermos tomar as nossas próprias decisões. Somos impacientes quando chegamos a fase adulta, queremos casar-nos, ter filhos, bom emprego, casa própria e carro do ano. Somos impacientes em tudo. Temos pressa para tudo. O mundo pós-moderno prega o imediatismo e conquistas a curtos prazos porque, se demorar para acontecer, quando acontecer, já estará ultrapassado.

Na vida cristã também tem acontecido assim. Temos pressa para receber as bençãos do Senhor. Ficamos impacientes quando há demora para as portas se abrirem. Somos impacientes quando não chega logo a nossa vez de assumir o cargo tão esperado. Ficamos impacientes quando tudo parece demorar para acontecer.

O grande problema não é ser longânimo em si mesmo, mas os pecados que cometemos por não sermos longânimos. Pecamos com murmurações. pensamentos, competições e práticas vingativas quando, aparentemente, fomos esquecidos. A impaciência produz ira em nosso coração e, portanto, nos leva a práticas pecaminosas maiores contra o próximo e a nós mesmos. Por não saber esperar, tomamos decisões precipitadas que, mais tarde, resultarão em prejuízos, tristezas, desilusões, decepções e arrependimentos.

Com isso, guardamos ressentimentos pecaminosos. Ficamos irados com a demora das coisas acontecerem e como aconteceram; e, até com as falhas dos neófitos na fé, rompemos amizades e deixamos de praticar o amor, a misericórdia e o bom testemunho de Cristo para nossos irmãos.

“A falta de longanimidade, expressa por meio da ira prolongada, é uma brecha que abrimos para a atuação do Diabo em nossas vidas”<1>.

O que o apóstolo Paulo faz nessa parte de sua carta aos gálatas é estimular esses irmãos recém convertidos ao cristianismo, à piedade prática, uma vez que agora precisão compreender que a verdadeira guerra é contra as obras da carne e não um contra o outro. O apóstolo exorta esses cristãos a uma devoção prática séria, como o melhor antídoto contra as ciladas dos falsos mestres.

Quando o apóstolo Paulo relaciona as obras da carne, menciona vários pecados decorrentes da ausência desse Fruto do Espírito – a longanimidade; tais como: “...inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções...” (Gl 5.20 ).

  1. Inimizades – hostilidade/falta de harmonia

  2. Porfias – contendas/disputas/discussão

  3. Ciúmes – rivalidade invejosa e contenciosa

  4. Iras – raiva/fúria

  5. Discórdias - ambições egoístas

  6. Dissensões – divisões

  7. Facções - um grupo de homens escolhendo seus próprios princípios (seita ou partido)

A longanimidade, como uma aplicação do Espírito Santo na vida do cristão, preenche o vazio que o pecado promove por causa de nossas ambições egoístas e partidárias. Paulo lança luz na vida de seus contemporâneos sobre a importância da nova vida em Cristo que é desenvolvida com a ação do Espírito Santo. A longanimidade é parte desta ação que precisa ser desenvolvida à medida que progredimos em nossa caminhada como peregrinos neste mundo.

Compreenderemos melhor ao refletirmos sobre alguns pontos importantes. Vejamos:

i. Etimologia da palavra - longanimidade

No idioma que o apóstolo Paulo escreveu sua carta aos Gálatas, a palavra longanimidade vem do grego μακροθυμια makrothumia que significa paciência, tolerância, constância, firmeza e perseverança. Ser longânimo significa ser equilibrado em vez de ter pavio curto; ser demorado em irritar-se, ter boa vontade para com quem fere. No latim, longânimo é “ânimo longo”.

Na mente de Jesus (Mt 5.43-45), ser longânimo é não retaliar, é não vingar a ofensa, é amar os inimigos (que são todos aqueles que nos fazem mal), é andar o segundo quilômetro. Essa qualidade, no Antigo Testamento, é geralmente atribuída a Deus, por sua capacidade de reter sua indignação diante da provocação humana. Nosso pecado provoca a ira de Deus, mas ele não a descarrega sobre nós por ser longânimo em sua essência.

É por essa razão que precisamos compreender essa palavra a luz do próprio Deus. Vejamos:

ii. A natureza da longanimidade

A paciência é outra forma de Deus expressar a sua bondade para com os homens. Há várias passagens nas Escrituras que descrevem a paciência de Deus:

  1. Deus é longânimo (Sl 103.8; Êx 34.6; 1Pe 3.20; 2Pe 3.15);

  2. Deus é tardio em irar-se (Ne 9.17; Sl 145.8; Jl 2.13).

Pink define a paciência de Deus dizendo ser ela aquele poder de controle que Deus exerce sobre Si mesmo, levando-O a tolerar os ímpios e a Se demorar em castigá-los (Rm 9.22). Ele ainda comenta dizendo que, se Deus despedaçasse imediatamente esses vasos reprovados, Seu poder de autocontrole não apareceria tão eminentemente; tolerando a iniquidade deles e adiando o castigo por tanto tempo, o poder da Sua paciência fica demonstrado gloriosamente<2>.

Ou seja, a longanimidade que o apóstolo Paulo ensina aos gálatas é, de fato, uma obra do Espírito de Deus, pois somente ele pode aplicar plenamente esse fruto em nós. Do contrário, sem o Espírito de Deus, agiríamos conforme as obras da carne.

É exatamente por causa da oposição as obras da carne (inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões e facções), que são frutos de uma vida aprisionada pelas paixões carnais, que o apóstolo Paulo apresenta o Fruto do Espírito como a solução para o mal que o homem sem Deus abriga dentro de si.

A paciência, como fruto do Espírito Santo, significa por um lado, a habilidade de aguentar por muito tempo os sofrimentos e oposições que possam surgir ao longo de nossa caminhada cristã. Por outro lado, significa a habilidade de tolerar os pontos fracos dos outros, inclusive de nossos irmãos em Cristo, pois agindo assim, expressaremos a verdadeira obra do Espírito Santo e testemunharemos do verdadeiro evangelho aos perdidos.

É exatamente isso que trataremos agora: a expressão da longanimidade.

iii. Expressões da longanimidade

Vimos que a verdadeira longanimidade é expressa em Deus, por meio de Cristo, ao não derramar sua ira sobre nós como merecíamos; e, agora, compreenderemos a expressão dessa longanimidade em reação às demais pessoas. Veremos que, em relação aos outros, precisamos desenvolver a tolerância máxima, não a tolerância zero, como é o padrão de muitos.

Em Lucas 9.51-56 nos deparamos com a falta de hospitalidade por parte dos samaritanos, e os discípulos Tiago e João perguntaram: — Senhor, quer que mandemos descer fogo do céu para os consumir? A resposta do discipulador foi rápida: — Vocês não sabem de que espírito são vocês, pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. A longanimidade de Deus nos salva. Devemos ser gratos a ele por isso. Nossa longanimidade deve salvar outras pessoas, mesmo que elas não nos agradeçam.

Somos chamados a exercer esse dom do Espírito porque também desfrutamos dele em nossa salvação e sustento da parte do Senhor Jesus. É unicamente por causa de sua plena paciência que Deus não nos pune como merecíamos, mas nos ensina a exercer o perdão e a tolerância com aqueles que tropeçam em suas paixões carnais.

Essa ‘tolerância’ não é sinônimo de concordância, mas de compreensão das limitações e em reconhecimento de que também estamos sujeitos aos erros. Com isso mente, ao invés de apontarmos o dedo, estendemos as mãos para ajudar aqueles que estão perdidos em suas inclinações pecaminosas.

Nossas mãos estendidas também não significarão que temos apenas amor para oferecer. Também somos chamados para corrigir e exortar em amor aqueles que estão em pecado. Fazemos isso em amor, mas sem deixar de exercer a justiça de Deus ao apontar os erros e o melhor caminho para ajudar o faltoso a voltar à presença do Santo dos santos.

Foi exatamente isso que Cristo fez na cruz do Calvário. Foi lá que Deus, em Cristo, aplacou sua ira que era sobre nós. Foi lá que Ele plenamente manifestou a sua longanimidade. Paulo diz essa mesma verdade quando escreve aos colossenses, dizendo “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl 2.14 ).

Aplicação

Compreendendo a maneira de expressarmos a verdadeira longanimidade que vem do Espírito de Deus, aprendemos algumas lições importantes:

  1. Reconheçamos que fomos salvos por causa da longanimidade do Senhor – do contrário, ainda estaríamos sob a ira de Deus e condenados ao inferno;

  2. Estejamos convictos que em nós a longanimidade é fruto do Espírito – do contrário, ainda estaríamos vivendo em discórdias, iras, ciúmes, divisões e inimizades;

  3. Assumamos que devemos ser instrumentos de longanimidade, até como instrumento para salvação de outros – do contrário, seríamos como pedra de tropeço para os que estão sendo alcançados pelo testemunho fiel das Escrituras em nossas vidas, ao pregarmos todo o conceito de Deus aos perdidos;

  4. Busquemos o fruto do Espírito, pois só assim seremos cristãos melhores, para a glória de Deus – do contrário, sem o Espírito de Deus, prevalecerá as obras da carne e não glorificaremos Aquele que nos resgatou das trevas e nos aproximou de si para a comunhão, o louvor e sua glória.

Conclusão

Quanto as coisas que tanto esperamos e que parecerem demorar em acontecer, que mantenhamos a paciência pois, no final de tudo, compreenderemos que o tempo de Deus não é o nosso e que seus pensamentos não são os nossos pensamentos. Também compreenderemos que Ele é soberano e nós não somos.

Quanto ao que já recebemos da parte de Deus, busquemos com zelo e perseverança nos mantermos fiéis no compromisso com sua santidade e o progresso de nossa fé; no final, tudo passará, mas as palavras do Senhor não passarão (Mt 24.35). O que Ele prometeu se cumprirá; precisamos apenas ser longânimos.

Quanto ao que ainda vamos receber e desfrutar na presença do Senhor, precisamos crer plenamente que a sua vontade é boa, perfeita e agradável, portanto, vale muito a pena aguardar no Senhor; seja o casamento, o emprego, a faculdade, o ministério e qualquer outra coisa.

Enquanto aguardamos pacientemente, sejamos longânimos uns com os outros e vivamos no amor de Deus, até que Cristo venha!

 

Citações

  1. <1> Israel Belo de Azevedo. O fruto do Espírito p. 52, Vida Nova, edição do Kindle.

  2. <2> A. W. Pink, 2016, páginas 98-100

Referências

  1. Azevedo, I. B. (2013). O fruto do Espírito: como deve ser a vida cristã. São Paulo, SP: Vida Nova.

  2. Campos, H. C. (2012). O ser de Deus e o seus atributos. São Paulo, SP: Cultura Cristã.

  3. Gomes, O. (2016). As obras da carne e o Fruto do Espírito. Rio de Janeiro, RJ: CPAD.

  4. Packer, J. I. (2014). O conhecimento de Deus. São Paulo, SP: Cultura Cristã.

  5. Pink, A. W. (2016). Os atributos de Deus. São Paulo, SP: PES: Publicações Evangélicas Selecionadas. Sociedade Bíblica do Brasil. (2018). Bíblia de Estudo NAA. Barueri, SP: SBB.

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