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  • Foto do escritorRev. Luiz Henrique

O Senhor livra seu povo | Salmo 129

Introdução

Vivemos em um tempo em que o mal tem prevalecido. Dias onde os homens estão cada vez mais amantes de si mesmo. Dias também de muito dor e sofrimento. Dias de pouca expectativa sobre o amanhã. A igreja do Senhor tem deixado de olhar para Cristo e tem buscado sobreviver segundo os seus próprios recursos.

No passado, quando homem tentou, por suas próprias decisões, tomar o rumo de sua vida, então ele deixou de florescer como deveria e passou a definhar em sua caminhada cristã. É tempo de clamarmos pelo socorro que vem do Senhor. É tempo de aguardarmos com fé e muita expectativa, a volta de Cristo. Quando esse dia chegar, então seremos abençoados de uma vez por todas e desfrutaremos de plena paz e prosperidade.

Neste dia, Cristo enxugará do rosto toda lágrima e não seremos envergonhados, mas manifestados com Ele. Neste dia, toda corda dos inimigos sobre a igreja será cortada e então seremos libertos de suas mãos. Este salmo é um ensaio de um fiel no Senhor que tem grande expectativa sobre este grande dia.

O Salmo 129 é o décimo degrau dos cânticos de romagem. Trata-se de um Salmo repleto de gratidão por livramentos e de imprecações. Orações imprecatórios são preces onde se entrega a Deus os inimigos. Os salmos imprecatórios, portanto, são aqueles em que o autor pede que Deus amaldiçoe seus inimigos. Esta não é uma palavra que usamos em nosso dia a dia. Eis uma definição simples: imprecar significa proferir uma maldição.

O salmista descreve a sua situação de humilhação e desejo de vingança ilustrando essa verdade com elementos encontrados na lavoura, um contexto totalmente relacionado ao salmista que trabalhou longos anos como escravo no Egito. O Dr. Wiersbe (2006, pág. 328), descreve esse contexto falando desses símbolos que o salmista utiliza para ilustrar sua vida amarga que viveu, dizendo o seguinte:

Os profetas descreveram a destruição de Jerusalém pela Babilônia com o verbo “lavrar”. Os babilônios afligiram o povo de Judá como quem passa o arado sobre a terra, de modo que, provavelmente, este salmo foi escrito depois que os exilados voltaram a Judá. Estavam cercados de povos inimigos que os odiavam.

Essa descrição da situação dos hebreus que o Dr. Wiersbe comenta, descreve o ‘quão severa’ era os sofrimentos e perseguições que enfrentavam, porém, não eram maior que o Deus de Israel. Sua dor e amargura produziam uma expectativa de socorro e libertação que apenas Deus poderia suprir, como de fato o fez. Sua humilhação e vergonha produziram um desejo de vingança que apenas Deus, em sua força, soberania e poder, poderia suprir.

Portanto, este salmo apresenta um povo que sofre humilhações, vergonhas e dores, mas também, um Deus onisciente – conhece todas as suas aflições, onipotente – tem todo o poder para os livrar; e, onipresente – está entronizado nos céus, mas também está com o seu povo.

João Calvino (2009, pág. 390), fazendo uma aplicação deste salmo à realidade da igreja, diz que ele...

...ensina, em primeiro lugar, que Deus sujeita sua igreja a diversas tribulações e disposições, a fim de provar que Ele mesmo é o seu Libertador e Defensor. O salmista traz à memória dos fiéis quão dolorosamente o povo de Deus foi perseguido em todas as eras e quão maravilhosamente foram preservados, a fim de, por meio desses exemplos, fortificar a esperança deles em referência ao futuro. Na segunda parte, sob a forma de uma imprecação, ele mostra que a vingança divina está quase a sobrevir a todos os ímpios, os quais afligem sem causa o povo de Deus.

O ponto de Calvino é que, mesmo as perseguições e tribulações que a igreja enfrenta e enfrentará nesta vida, ainda assim, Deus continua preservando o seu povo. Estas lutas enfrentadas pela igreja contribuem para o seu aperfeiçoamento e evidenciam àquele que é capaz de libertar e defender seu povo.

Para nós, a igreja do Senhor, essas provações não existem para a nossa destruição; mas, conforme diz Tiago (1.2-3), elas servem para “...provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança”. Elas também nos fazem descansar no Senhor, em todos os sentidos da palavra (confiança/fé/estar em paz de espírito).

O salmista segue uma progressão em sua descrição dos fatos que nos auxiliam a compreender sua mensagem. Ele faz isso com três degraus; vejamos o primeiro:

i. A aflição do salmista – v.1-3

Nestes versos, fica claro o quadro sofredor e humilhante que o salmista e a nação de Israel enfrentaram. Ele fala de angústias que o acompanham por toda a sua vida, dores intensas e sequelas traumáticas.

Podemos encontrar cinco detalhes a respeito desta aflição humilhante descrita pelo salmista:

  1. Ela é pessoal – o salmista diz “Muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade <...> não prevaleceram contra mim <...> passaram o arado nas minhas costas...”. Ele descreve uma situação do qual experimentou na própria pele. Não se trata de algo que ouviu falar.

  2. Ela é coletiva – o salmista também descreve a situação de seu povo. Ele diz “...Israel que o diga...”. Israel viveu por longos períodos de escravidão que envolveram dor, sofrimento, humilhação e desejo de vingança.

  3. Ela é severa – o salmista diz “...muitas vezes...”. Essa fala não apenas descreve a quantidade de vezes que foram oprimidos e humilhados, mas também a intensidade deles.

  4. Ela é persistente – o salmista também diz “...desde a minha mocidade...”. Ele fala por duas vezes a mesma frase para evidenciar que basicamente em toda a sua vida, essa opressão e humilhação por parte de seus inimigos, esteve presente.

  5. Ela é brutal – o salmista diz “Os lavradores passaram o arado nas minhas costas e abriram longos sucos”. Essa fala descreve a terrível e violenta dor que enfrentavam por meio dos açoites, castigos e trabalhos forçados e exaustivos que eram submetidos.

Esse era o quadro de aflição, dor e sofrimento enfrentado pelo salmista e toda a Israel. Não era uma situação fácil de descrever, muito menos de viver; porém, o salmista não descreve essa aflição para apenas produzir tristeza em nossos corações. O salmista também traz uma palavra de esperança, fé e confiança que produzem perseverança na vida daquele que está nas mãos do Senhor. Só ele é capaz de livrar seu povo de todo o mal.

O salmista diz “Mas o Senhor é justo, cortou as cordas dos ímpios” – v.4. Isso nos conduz ao segundo degrau da progressão que o salmista apresenta para descrever como o Senhor livrou seu povo. Vejamos:

ii. A expectativa do salmista – v.4

Uma das características dos verdadeiros crentes é a sua no Senhor. Nós não fantasiamos o mundo e vemos todas as coisas de maneira colorida e sempre alegre; pelo contrário, vemos as tragédias e os problemas que nos cercam, causando-nos dor e sofrimentos. A diferença é que não perdemos a fé por causa dessas coisas; pelo contrário, por causa de onde essa fé está deposita é que também vemos os milagres de Deus acontecendo, e isso nos fortalece e nos traz consolo.

É exatamente isso que o salmista está fazendo: ele é capaz de ver o milagre de Deus apesar da terrível condição que experimenta. Ele é capaz de compreender que, apesar de tudo, o seu Deus é justo e, em sua justiça, não deixará que essa situação de humilhação e sofrimento o destrua. O salmista é capaz de perceber a mão do Senhor agindo em seu favor.

Muitos, enquanto sofrem, ficam cegos quanto ao agir de Deus; outros, preferem não acreditar que tudo isso esteja acontecendo por achar que o seu “deus” não seria capaz de permitir que isso aconteça.

A verdade é que o salmista tem plena consciência que Deus não perdeu o controle; Ele continua poderoso e é capaz de o livrar, como de fato o fez. Quando o salmista afirma que Deus é justo, ele está dizendo que Deus é maravilhosamente fiel. Em que sentido? O que Deus fez? Ele se lembrou do seu povo. Como? Ele “cortou as cordas dos ímpios”.

A expectativa do salmista continua depositada em Deus e sua justiça. Ela procede não da fidelidade da nação de Israel, nem mesmo do salmista, mas de Deus unicamente, pois Deus é fiel a si mesmo e é incapaz de mentir. Como disse Jó “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2 ). A expectativa do salmista está em Deus e sua Palavra, pois ela é Fiel e digna de aceitação (1Tm 4.9 ).

A justiça de Deus também é vista e abraçada pelo salmista ao ponto de confiar suas queixas e seu desejo de vingança à Ele. Sendo assim, ela também é vista pelo salmista quando Deus pune seus inimigos. Isso também nos conduz ao terceiro degrau da progressão que o salmista apresenta para descrever como o Senhor livrou seu povo. Vejamos:

iii. A imprecação do salmista – v.5-8

O salmista pede que Deus envergonhe os atormentadores de Israel. Ele usa uma figura verbal para explicar o que tem em mente: ele quer que sejam “como a erva dos telhados”.

A figura da colheita é utilizada para ilustrar o propósito do salmista. Ele passa do campo para o alto das casas. Na Palestina havia algumas casas com telhados cobertos de palha, que eram as casas dos mais pobres. Também havia as casas dos mais ricos, que eram mais planas e feitas de uma mistura de barro, argamassa, madeira e palha.

Na época da semeadura, era fácil algumas sementes serem carregadas pelo vento e caírem no telhado – Jesus falou sobre isso na parábola do semeador quando descrevia as sementes que caíram no meio do caminho (Mt 13). As sementes que a iam parar nos telhados, cresciam rapidamente, mas por não terem solo profundo suficiente, suas raízes eram curtas e, com o sol escaldante, elas não germinavam e antes do início da tarde elas já morriam.

O que o salmista pede ao Senhor é que os inimigos de Sião pereçam rapidamente, como o capim inútil que nasce no telhado. Você percebe o tipo de linguagem empregada pelo salmista? Em certo sentido, ela também é escatológica. Ele quer que seus inimigos sejam como a erva; eles podem até prosperar (ascender) por um curto período, mas, no final, murcharão como erva que para nada aproveita. Eles não conhecerão jamais “a bênção do Senhor”. Esta é a oração do salmista.

Perceba também que o salmista não está orando dizendo que ele mesmo se vingará de seus inimigos; mas que entrega totalmente essa tarefa nas mãos de quem é mais poderoso do que ele – o Senhor dos exércitos; neste sentido, a justiça que prevalece é a divina.

O salmista diz algumas duas coisas de cunho escatológico que precisamos dar atenção neste momento:

  1. Os ímpios, inimigos de Sião, não prosperarão – v.6-7;

  2. Os ímpios, inimigos de Sião, não serão abençoados pelo Senhor – v.8;

A prosperidade vinda da parte de Deus é ilustrada com uma semente que tem solo fértil onde poderá crescer e florescer e, no tempo da colheita, os ceifeiros encherão suas mãos com os frutos. Isso será um reflexo de que a benção do Senhor está sobre esse plantio e essa benção será testemunhada por todos, especialmente por aqueles que também desfrutam e comungam da mesma benção do Senhor.

Aplicação

À semelhança do salmista, também podemos relacionar este salmo com Cristo e entender a mensagem dele da seguinte maneira:

  1. Do mesmo modo que o salmista, Cristo também experimentou terrível aflição – Isaías 50.6;

  2. Do mesmo modo que o salmista, em tempos de aflição e vergonha, Cristo olha para Deus – Isaías 50.7;

  3. Do mesmo modo que o salmista, Cristo confia seus inimigos aos juízos de Deus – Isaías 50.9.

Conclusão

Precisamos confiar na obra de Cristo na cruz, pois só Ele é capaz de nos livrar de nossos verdadeiros inimigos. As costas dilaceradas de Cristo nos capacitam a escapar da prisão do passado. As costas dilaceradas de Cristo levam-nos a pôr um fim no ódio e na amargura; elas nos capacitam a mortificar – ou destruir – o desejo de vingança pessoal, confiantes na justiça divina.

As costas dilaceradas de Cristo nos compelem a oferecer perdão condicional. Quando contemplamos a cruz, somos esmagados até o chão. Vemo-nos subjugados pelo amor de Deus por nós. E somos compelidos a estender a compaixão aos outros – mesmo àqueles que nos odeiam e maltratam. As costas dilaceradas de Cristo nos fortalecem para aguardar pelo Vingador.

Que permaneçamos confiantes no Cristo que livra o seu povo! Amém.

 

Referências

  1. Calvino, J. (2009). Salmos Volume 4 - Série de Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel.

  2. Costa, F. M. (07 de Dezembro de 2018). A restauração de Deus. Fonte: Voltemos ao Evangelho: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2018/12/a-restauracao-de-deus/

  3. Wiersbe, W. W. (2006). Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, volume III - Poéticos. Santo André, SP.: Geográfica Editora. Yuille, J. S. (2017). Saudades de Casa – Uma jornada através dos Salmos dos Degraus. Recife, PE.: Editora Os Puritanos.

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