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Uma sincera oração | Salmo 130

Introdução

Salmo 130 é uma espécie de Romanos 3 do Antigo Testamento. Cercados pelo pecado, a única esperança para os pecadores é confiar no perdão oferecido graciosamente por Deus. O Salmo 130 é um salmo penitencial. Nele, os peregrinos oravam reconhecendo seus pecados diante de Deus com a doce perspectiva do perdão.

João Calvino (2009, pág. 398), vê esse salmo da seguinte maneira:

Quer o salmista <...> ore em seu próprio nome, quer represente toda a igreja, torna-se evidente que, achando-se esmagado pelas adversidades, ele súplica livramento com profundo ardor de sentimento. Embora reconheça que é castigado, com justiça, pela mão de Deus, ele encoraja a si mesmo e a todos os verdadeiros crentes a nutrirem boa esperança, visto que Deus é o eterno Libertador de seu povo e sempre têm em prontidão os meios de resgatá-los da morte.

O salmista nos conduz das profundezas do desespero para as alturas do júbilo; da tristeza para a exultação; da tribulação para a devoção. Ele nos conduz das profundezas esmagadoras da depravação humana para as sublimes elevações da misericórdia de Deus<1>.

De que maneira o salmista nos conduz a esse tipo de cosmovisão cristã? Ele faz isso por meio de uma sincera oração que envolve quatro verdades importantes; e a primeira delas envolve:

i. Uma súplica: da morte para a vida – v.1-2

A sincera oração do salmista envolve uma súplica que reflete a luta de uma consciência perturbada, uma mente atormentada e um coração atribulado. Essa oração sincera parte de alguém que está perdido no abismo da morte, fruto de sua iniquidade. É com razão que o apóstolo Paulo fala que o “...salário do pecado é a morte...” (Rm 6.23a). Literalmente, as nossas iniquidades produziram morte à nós mesmos.

Porém, a sincera oração do salmista não inclui apenas o reconhecimento de sua vida no abismo; mas ele é tomado por uma força que o conduz a suplicar ao Senhor – “Das profundezas clamo a ti, Senhor”. Em sua oração, ele pede socorro a quem o pode dar. Ele clama a quem o pode ouvir. De sua morte, ele encontra vida no Senhor.

Jesus Cristo, no Getsêmani (Mc 14.32 ), também nos deu exemplo de que, mesmo em perigo de morte – ou até em condições em que não há outra coisa se não a morte, ainda podemos clamar a Deus confiantes de que Ele nos ouve e está atento ao nosso clamor. Ele morreu por carregar a culpa de nossos pecados, mas foi ressuscitado ao terceiro dia. Nele, temos vida e vida em abundância. É por essa razão que também cremos nas palavras do apóstolo Paulo quando diz que “...o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23b).

Assim como Cristo, podemos clamar a Deus do abismo das decepções, das derrotas, do medo e perturbações. Podemos e devemos suplicar aquele que venceu a morte e está assentado à direita do Pai.

A sincera oração do salmista também envolve uma segunda verdade importante:

ii. Uma confissão: da culpa para o perdão – v.3-4

Sob profunda convicção de pecado, o salmista suplica pela misericórdia a Deus. Ele não clama pela misericórdia primeiramente – até porque está nas profundezas; ele primeiro confessa que sua vida está cercada por iniquidades e que não há como se esconder do Senhor. Mesmo nas profundezas, o salmista diz que o Senhor é capaz de observar a sua iniquidade e que ninguém é capaz de escapar de seus olhos.

O salmista Davi diz a mesma coisa no salmo 139, quando declara:

7 Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? 8 Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; 9 se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, 10 ainda ali a tua mão me guiará, e a tua mão direita me susterá. 11 Se eu digo: “As trevas, com certeza, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite”, 12 até as próprias trevas não te serão escuras, e a noite é tão clara como o dia. Para ti, as trevas e a luz são a mesma coisa Salmos 139:7-12 (NAA).

Não tem como escapar dos olhos do Senhor. Ele nos conhece! Esta é a verdade que precisa estar em nossa mente todos os dias de nossas vidas: Ele nos conhece e nos vê! Por estarmos cientes dessa verdade, precisamos orar sinceramente ao Senhor, dizendo: “Das profundezas clamo a ti, Senhor”. Nossa oração ao Senhor já deve ser em reconhecimento de nossa real condição como pecadores e da certeza de que em Sua santa presença não há como prevalecer. Ele é santo, e nós pecadores; Ele é puro, e nós iníquos; Ele é onipotente, e nós fracos e perdidos.

Tendo confessado e reconhecido sua culpa diante de Deus, o salmista também expõe sua certeza de que, no Senhor, está o seu perdão. Nós, que estamos em Cristo, podemos sinceramente reconhecer nossos pecados cotidianos, mas não podemos esquecer que “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9 ).

Jesus Cristo, quando esteve com seus discípulos, lhes ensinou a orar pedindo perdão pelos pecados e a conceder o perdão (Mt 6.12 ), pois Ele assim o fez por nós (Lc 23.34 ), mesmo não tendo pecado (Hb 4.15 ).

(Mateus 6:12 ) e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; 
(Lucas 23:34 ) Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes. 
(Hebreus 4:15 ) Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. 

Se levarmos a sério a culpa do pecado, também levaremos a sério a graça do perdão concedida por Deus àqueles que confessam e abandonam o seu pecado. Precisamos reconhecer que não se pode esconder nada de Deus e, se alguma iniquidade ainda domina nossas vidas, ela precisa ser abandonada antes que venha o tão terrível Dia do Senhor. Neste dia, nenhum culpado poderá escapar de Sua justa ira (Sl 130.3 ).

Aqueles que estão em Cristo Jesus, conforme diz o apóstolo Paulo (Rm 8.1 ), “...Nenhuma condenação há...”. Ele, conforme escreveu o profeta Isaías, “...levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (Is 53.12 ). Portanto, há esperança para todo aquele que, arrependido, confessar os seus pecados e reconhecerem que, somente em Cristo, há perdão.

A sincera oração do salmista também envolve uma terceira verdade importante:

iii. A esperança: da escuridão para luz – v.5-6

O salmista, por meio de sua sincera oração, expõe sua verdadeira expectativa – ele aguarda o Senhor. “Aguardar o Senhor”, seguindo a ilustração que salmista apresenta, significa descanso. O salmista ilustra sua verdade falando da expectativa das sentinelas que passavam toda a noite em claro guardando a cidade em segurança, mas que seu maior desejo era que a noite passasse logo e que o nascer do sol fosse uma realidade, pois só no amanhecer que teria o descanso necessário.

Lembre-se, o salmista está falando das profundezas e deseja ver a luz. Ele, enquanto em iniquidade, se vê incapaz de escapar da presença do Senhor. Mas, embora esteja em trevas, se apega à misericórdia e graça do Senhor para contemplar a luz. Essa luz significa o perdão de pecados e descanso de uma vida de densas trevas. Significa o nascer de um novo dia, uma nova oportunidade concedida pelo Senhor.

O desejo do salmista vai além do simples “descanso” depois de uma noite em claro. Ele anseia pela presença do Senhor, que preenche toda solidão, vazio, dor e sofrimento. A presença do Senhor traz consolo, perdão e esperança. É por isso que seu anseio é maior “...do que os guardas anseiam pelo romper da manhã”.

Em Jesus Cristo encontramos todas essas coisas. Nele encontramos alívio para nossos fardos pesados (Mt 11.28-30). Nele podemos descansar tranquilos (1Pe 5.7). Não nos sentimos solitários por Ele está conosco (Mt 28.20b). Nele, não andaremos mais em trevas, mas em plena luz e vida (Jo 8.12).

Embora o salmista fale de uma maneira que essas coisas não tenham acontecido ainda – até porque sua esperança estava na vinda do Messias, nós o podemos declarar convictos de que elas já tenham acontecido e que aguardamos apenas a sua consumação. Cristo já veio e já instalou o seu Reino. Ele já tomou sobre si as nossas dores e já conquistou a nossa salvação; porém, Ele ainda consumará todas as coisas que restam, como nosso resgate deste mundo e nossa santificação plena. Mas já podemos viver em plena luz, uma vez que as trevas não prevaleceram contra a Luz de Cristo.

A sincera oração do salmista também envolve uma quarta verdade importante:

iv. A confiança: da escravidão para a liberdade – v.7-8

O salmista depois de falar de sua expectativa no Senhor, agora fala de sua plena confiança naquele que é capaz de o libertar das profundezas do abismo. O salmista descreve o seu Libertador expondo três características que o distingue de qualquer general de guerra ou rei:

  1. Misericórdia– Enquanto em batalhas não havia misericórdia para aqueles que eram derrotados, o salmista diz que apenas no Senhor há misericórdia. A palavra hebraica para misericórdia é חסד checed que significa aquele que é bom, benigno e fiel. Portanto, o salmista juntamente com toda a Israel poderia confiar no Senhor.

  2. Redenção– outra característica que o salmista apresenta é que apenas o seu Senhor é capaz de resgatá-los da verdadeira escravidão em que vivia Israel. A palavra hebraica para redenção פדת p ̂eduth significa resgate. A confiança do salmista, juntamente com Israel, é que seriam resgatados das profundezas; precisavam apenas aguardar com confiança no Senhor.

  3. Redimir – o salmista expõe mais uma característica do Senhor. A palavra hebraica para redimir פדה padah tem uma aplicação que também envolve ser resgatado e livre. O salmista convida Israel a confiar naquele que é capaz de livrá-los da condenação para a morte. Ao invés de serem mortos como punição, eles, por meio do Senhor, seriam perdoados e libertos, desfrutando de plena vida.

Os pensamentos e a sincera oração do salmista voltam-se para os outros que também precisam partilhar de sua confiança no Senhor. À vista da bondade e abundante redenção do Senhor, ele pode afirmar que Deus remirá Israel de todas as suas iniquidades.

Perceba que o salmista condiciona todas essas aplicações favoráveis a ele e a Israel, à pessoa do Senhor. Em outras palavras, ele está expondo que há uma razão para tudo isso acontecer: o Senhor! Ele diz “...no Senhor há misericórdia; nele, temos ampla redenção”; e, “É ele quem redime Israel...”.

Também podemos desfrutar destas coisas na pessoa de Cristo Jesus. Nele, desfrutamos das misericórdias de Deus (1Pe 1.3 ). Por meio do sangue de Cristo, recebemos ampla redenção (Ef 1.7 ). Pelo sacrifício de Cristo na cruz, fomos redimidos de todo o pecado (Tt 2.14 ).

Conclusão

Como igreja do Senhor podemos suplicar pelo seu favor sempre que estivermos nas profundezas da solidão e das derrotas. Podemos confessar os nossos pecados, certos de que em Cristo temos o perdão e a restauração de nossas vidas. Devemos manter viva a esperança da volta daquele que é a luz do mundo; e, permaneçamos confiantes no único capaz de nos resgatar deste mundo de trevas e nos livrar desta vida de iniquidades.

 

Mt 11.28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mt 11.29 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Mt 11.30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.

1Pe 5.7 Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.

Mt 28:20b ...e eis que que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Jo 8.12 De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.

1Pe 1.3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,

Ef 1.7 no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,

Tt 2.14 o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.

 

<1> Yuille, J. Stephen. Saudades de Casa: Uma jornada através dos Salmos dos Degraus (pp. 132-133). CLIRE/Os Puritanos. Edição do Kindle

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