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A providência de Deus | Salmo 127

Introdução

Este salmo foi escrito por Salomão a fim de mostrar a futilidade do cuidado mundano e de como é necessário que nos mantenhamos no favor de Deus. Ele fala do tipo de preocupação que está alicerçada na providência de Deus; o contrário disso, é a preocupação que, em grande parte de nossas vidas, encontra lugar central em nosso coração. Salomão celebra a providência de Deus que a tudo envolve, demonstrando essa realidade em duas esferas de extrema importância: provisão e proteção.

João Calvino (2009, pág. 373) diz que este salmo nos mostra que:

...a ordem da sociedade, política ou familiar, é mantida tão somente pela bênção de Deus, e não pela habilidade, diligência ou sabedoria dos homens . Mostra-nos também que a procriação de filhos é um dom peculiar de Deus.

Aqui a ênfase está colocada sobre a futilidade do esforço humano sem a ajuda de Deus. De nada valem os projetos e esforços dos seres humanos, se Deus não os faz prosperar. Salomão tem uma casa a construir, uma cidade para tomar conta e uma semente para criar para seu pai, Davi guia-o a levantar os olhos para Deus e a depender da providência dele, sem o que toda sua sabedoria, cuidado e diligência não serviriam de nada.

Nesse salmo, encontramos três verdades importantes sobre o caráter providencial de Deus. Vejamos:

i. A providência e proteção de Deus – v.1

As palavras ‘edificar’ e ‘trabalhar’, no ramo da construção civil, são parecidas em seus significados; porém, o salmista traz uma aplicação do uso original das palavras para dizer algumas coisas importantes quanto a Deus e o homem. Vejamos:

  1. A vontade de Deus – ‘Edificar’, em sua tradução original, refere-se a algo que é estabelecido e será construído – aqui temos à “vontade” sendo exposta. ‘Trabalhar’, por outro lado, já denota um “esforço” envolvido para por em pratica o que foi estabelecido. Portanto, Deus estabelece o que precisa ser feito e nós, o seu povo, colocamos em prática o que Deus estabeleceu – é assim que entendemos a grande comissão, Deus estabeleceu a missão e os trabalhadores executam a missão da maneira como ela foi estabelecida.

  2. A dependência de Deus - A total dependência do homem a Deus está ilustrada neste salmo. Construir uma casa e guardar uma cidade não adianta nada (de acordo com os padrões divinos) se Deus não for incluído nos planos e esforços do homem. Até mesmo o homem diligente que trabalha desde a manhã até tarde da noite não pode esperar ter sucesso sem as bênçãos e a sanção de Deus.

Quando o Senhor é o provedor dos recursos, os trabalhadores podem construir com a segurança de que a obra iniciará e chegará a conclusão sem obstáculos. Quando o Senhor é o protetor da cidade, o guarda poderá manter vigilância convicto de que ela estará segura. Em ambos os casos, tanto o divino quanto o humano, estão envolvidos num só objetivo: edificar e guardar.

Perceba que a provisão para construção da casa e a proteção da cidade estão inteiramente dependentes de Deus, em primeiro lugar (se o Senhor não edificar <...> se o Senhor não guardar); ainda assim, mesmo com a provisão e proteção que Deus dispõe, é necessário que haja o trabalho e vigilância daqueles que se beneficiarão da provisão de proteção de Deus (...trabalham os que a edificam <...> vigia a sentinela).

Isto significa dizer que, por mais que Deus em sua misericórdia e graça nos abasteça abundantemente, ainda assim se faz necessário o trabalho e vigilância, pois o salmista não exclui o homem de sua responsabilidade, mas o põe na dependência da provisão e proteção de Deus.

ii. O modo da providência de Deus – v.2

Salomão agora fala do modo de como a providência de Deus chega até anos. Ele falou categoricamente da ação soberana de Deus fazendo com que tenhamos sua provisão e proteção, além de falar da responsabilidade do homem no trabalho e vigilância constante.

Pensarmos em nosso sustento e proteção à parte de Deus é um erro grave que cometemos, pois dependemos dele para tudo. Ao mesmo tempo, não podemos pensar que nosso trabalho exaustivo de cada dia não tem lugar no papel abençoador de Deus. Na verdade, sem Deus, todo esse trabalho será em vão, pois a verdadeira prosperidade e contentamento vem de Deus.

O salmista não está dizendo que Deus é contra os esforços humanos; na verdade, o próprio Deus nos criou para o trabalho digno (Gn 2.15); o árduo trabalho honra a Deus. Mas trabalhar sem descanso ao ponto da exaustão e esquecer-se da família pode ser um disfarce para a incapacidade de confiar que Deus suprirá nossas necessidades. O descanso, além de ser uma ordenança do senhor (Gn 2.1-2; Êx 20.8-11), no final de todo trabalho, demonstrará a nossa gratidão, fé e confiança em Deus, na certeza de que ele tornará nosso trabalho proveitoso, abençoador e prospero.

O salmista diz três coisas sobre ser inútil o excesso de trabalho sem descanso e a confiança em Deus:

  1. Inutilidade do levantar-se cedo e dormir tarde – v.2a;

  2. Inutilidade do pão que não dará prazer, satisfação e sustento – v.2b;

  3. Inutilidade do suor do rosto, reflexo do muito esforço – v.2c;

Essas coisas são resultantes de uma vida de muito esforço jogado fora e sem produzir alegria e satisfação plena na busca do sustento. Sem Deus, todo o esforço é inútil. Mas, com Deus, tudo é proveitoso, abençoador e satisfatório.

Qual o modo providencial de Deus?

  1. Aos seus amados – o cuidado especial de Deus sobre seus filhos e servos;

  2. Ele o dá – a benção de Deus é concedida (dada) aos que confiam nele, enquanto que “os incrédulos labutam para adquirir por meio de seu próprio esforço”<2>;

  3. Enquanto dormem – Aqui estão os que descansam e confiam no Senhor; e, por agirem assim, Deus lhes concede as bençãos necessárias para uma vida prospera.

Para Salomão, Deus abençoa e prospera os seus filhos amados enquanto descansam e confiam no Senhor. Enquanto dormem, Deus continua acordado e trabalhando para que nossa vida seja cercada por suas bençãos. A verdadeira prosperidade não está nas riquezas deste mundo perdido e seus tesouros que serão destruídos e esquecidos, mas na vida daqueles que descansam no Senhor e desfrutam de sua verdadeira paz e alegria plena.

Enquanto descansamos (...enquanto dormem), redobramos as forças do corpo e da mente, e assim, glorificamos a Deus. Enquanto isso, Ele prepara um novo dia para que desfrutemos de sua bendita graça e os frutos de um trabalho digno, efetuado por corações gratos e plenamente satisfeitos n’Ele.

ii. A benção providencial de Deus – v.3-5

Salomão agora passa a falar de algo importante que também está relacionada a providência de Deus – os filhos. A maioria das pessoas imaginam que os filhos são gerados apenas por um instinto natural, sem um objetivo relacionado com Deus. Esse é um engano que tem ganhado mentes e corações até mesmo de crentes; e, com isso, o perfil e o crescimento da família tem se dissolvido em nossos dias.

Na verdade, os filhos também são fruto da benção providencial de Deus para os seus amados. Além de trazer alegria e resolver a questão da continuidade da humanidade, os filhos são herança do Senhor; portanto, como herança do Senhor, estão aos cuidados dos pais que, também precisam investir um esforço que envolve o cuidado e ensino doutrinário.

Essa parte do salmo continua nos ensinando sobre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Por meio de sua soberana vontade, Deus estabelece o meio para a continuidade da raça humana – o fruto do ventre; e, ao homem, lhes concede a responsabilidade de dirigir e instruir.

A fim de expor com clareza esta benção providencial de Deus – possuir uma descendência, o salmista faz três ilustrações de seu tempo que nos ajudam a compreender a verdade exposta:

  1. Herança do Senhor – v.3a;

Uma das razões para um homem ter muitos filhos era a continuação da sua própria linhagem. Para o povo de Israel era muito importante ter filhos; e Deus abençoava seu povo com filhos, e eram uma herança valiosíssima para os judeus. Com eles, não apenas demonstraria ser um povo prospero, mas também dariam continuidade a adoração e testemunho do nome de Deus às nações.

  1. Flechas na mão do guerreiro – v.4-5a;

O arco e flecha eram uma das principais armas utilizadas em guerras no tempo antigo. Salomão diz que os filhos são como flechas na mão do guerreiro para sua defesa. Como um povo separado por Deus de entre as nações, é por meio dos filhos que cada israelita preservaria o nome Santo de Deus e, teria as bençãos da parte dele. Além da responsabilidade que os conduzir no caminho certo, assim como as flechas são lançadas no alvo. Não adianta nada apenas dizer que os filhos são herança do Senhor se não os conduzir à sua Santa presença.

  1. Enfrentar os seus inimigos no tribunal – v.5b;

As portas das cidades eram o local em que se realizavam as transações importantes, e era de grande ajuda ter uma família temente a Deus para dar apoio nessas ocasiões; e, quanto mais filhos tinham, mas chance de vitória em caso de confrontos com os inimigos.

Tudo isso é dito para descrever a benção providencial de Deus ao conceder filhos aos seus amados e lhes dar a responsabilidade de conduzi-los e orientá-los no caminho do Senhor.

Aplicação

Diante disso, temos algumas aplicações importantes que precisamos guardar em nossa mente e coração:

  1. Deus é aquele que não apenas protege seu povo, mas também provê todas as coisas que precisamos para esta vida;

  2. Embora sejamos abastecidos com as dádivas de Deus todos os dias, não podemos negligenciar a importância do trabalho digno e honesto como como fruto do suor de nosso rosto, estabelecido por Deus;

  3. Ao invés de andarmos ansiosos e preocupados com o dia de amanhã, devemos descansar, no dia de hoje, no Senhor e em sua providência;

  4. (Mateus 6.25 ) Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?

  5. (Filipenses 4.6 ) Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.

À luz da providência de Deus que a tudo envolve, não temos razão nenhuma para nos preocuparmos. Com toda a certeza, este foi o ponto de Cristo quando ele declarou: “Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai Celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6.26)<3>. Se a providência de Deus se estende para suprir o alimento de um simples passarinho e para protegê-lo, então com toda a certeza se estende também aos seus filhos.

4. Não nos esqueçamos da maior de todas as providências de Deus, aos homens pecadores e perdidos: Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Com ele, temos vida e vida em abundância. Por meio dele e seu sacrifício na cruz, temos o perdão de nossos pecados e paz com Deus. Em Jesus, fomos salmos e por meio dele, o Filho unigênito de Deus, fomos feitos filhos de Deus e nos unimos a muitos outros filhos, em uma única família na fé. É nossa responsabilidade preservar o testemunho fiel de Cristo e manifestar o seu favor entre os homens, pregando a verdade do evangelho a toda a criatura. No final Deus será glorificado e exaltado entre as nações!

Conclusão

Sabemos que a sua bondade rege a sua providência, ou seja, ele designa todas as coisas para nosso bem. Sabemos que a sua sabedoria governa sua providência, ou seja, ele sabe o que é melhor para nós. Sabemos que seu poder executa sua providência, ou seja, ele está no completo controle<3>.

Portanto, descansar no Senhor será algo importante na vida cristã, além de compreender o quão digno é poder comer o pão do suor do rosto como fruto de um trabalho honesto e abençoador da parte de Deus.

Referências

  1. Calvino, J. (2009). Salmos Volume 4 - Série de Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP.: Editora Fiel.

  2. Costa, F. M. (07 de Dezembro de 2018). A restauração de Deus. Fonte: Voltemos ao Evangelho: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2018/12/a-restauracao-de-deus/

  3. Wiersbe, W. W. (2006). Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, volume III - Poéticos. Santo André, SP.: Geográfica Editora. Yuille, J. S. (2017). Saudades de Casa – Uma jornada através dos Salmos dos Degraus. Recife, PE.: Editora Os Puritanos.

 

<1> Calvino, 2009, Pág. 378.

<2> Yuille, J. Stephen. Pág. 106-107, Edição do Kindle.

<3> Yuille, J. Stephen. Pág. 108, Edição do Kindle

 
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